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segunda-feira, 31 de março de 2014

Thomas Piketty e os argumentos dos opositores da Desigualdade de Renda.

Thomas Piketty é um professor da Escola de Economia de Paris que dedicou toda a sua vida ao estudo da desigualdade de renda. Segundo ele a desigualdade de renda voltou a crescer nos países ricos e isto representa uma ameaça à Democracia. 


A revista Exame desta semana traz uma entrevista com o professor Thomas Piketty. Também nesta semana o Financial Times traz um artigo seu. O trabalho da vida do professor é estudar a desigualdade de renda. Recentemente, Piketty lançou o livro que foi abraçado pelos economistas de esquerda como uma obra monumental, o "Capital in the 21st Century" (O capital no século 21, em tradução livre). 


Vamos analisar o seu artigo no Financial Times que você encontra na versão original em inglês no site do professor (aqui).


A distribuição de renda e riqueza é um dos temas mais controversos atualmente. A história demonstra que há poderosas forças econômicas empurrando em cada direção - a favor de uma maior igualdade e contrária a isto. 

América é um caso em questão. Esta é uma nação que foi concebida como uma antítese das sociedades patrimonialistas na Velha Europa. Alexis de Tocqueville, o historiador do século 19, viu na América um lugar onde a terra era tão abundante que qualquer um poderia pagar por uma propriedade e uma democracia de cidadãos igualitária poderia florescer. Até a Primeira Guerra Mundial a concentração de renda na mão dos ricos era muito menos extremada nos Estados Unidos do que na Europa. No século 20, contudo a situação se inverteu. 

Entre 1914 e 1945 a desigualdade de renda na Europa foi varrida pela guerra, inflação, nacionalização de empresas e impostos. Após este período, os países europeus criaram instituições - que apesar de todos os seus defeitos - são mais igualitárias e inclusivas que as existentes nos Estados Unidos. 

O professor já aponta a bizarrice que existe na fundamentação do seu trabalho. A desigualdade diminui na Europa neste período devido ao inevitável empobrecimento do continente provocado pelas guerras mundiais. Aqui está apenas uma introdução do que vem por aí. Não é preciso raciocinar muito para compreender que a igualdade de renda somente pode ocorrer por meio do empobrecimento geral da nação. Uma menor desigualdade de renda foi obtida com a aplicação das teorias de Lord Keynes e seu estado de bem-estar. O resultado foi que a Europa menos desigual apenas viu a sua relevância no mundo diminuir, e o golpe foi ainda maior nos países em que as ideias de Keynes se fez mais presente, como a França de Thomas Piketty. 

Ironicamente, muitas destas instituições se inspiraram nos Estados Unidos. Da década de 30 até o início dos anos 80, por exemplo, o Reino Unido manteve uma equilibrada distribuição de renda atacando o que era considerado indecentes ganhos de renda com altas taxas de impostos. Mas, impostos de renda confiscatórios foram na verdade uma invenção americana - pioneiramente no períodos entre as duas guerras, num momento em que o país estava determinado a impedir as desfigurações da desigualdade de classes na Europa. O experimento americano com altas taxações de renda não afetaram o crescimento, que foi maior neste período do que tem sido desde os anos 80. Esta é uma ideia que precisa ser revivida, especialmente no país que a lançou.

Piketty revela aqui porque não merece ser levado a sério, a sua visão limitada das coisas, para não dizer que se trata apenas de picaretagem. As reformas liberalizantes eram uma necessidade no Reino Unido do fim dos anos 70 e início dos 80. O Reino Unido vivia um verdadeiro caos econômico, que só foi debelado com a ação enérgica de Margaret Thatcher, a dama de Ferro, liberalizando a economia. No caso, do Estados Unidos o crescimento econômico se deve a diversos fatores, menos à taxação das grandes fortunas. O fato dos Estados Unidos não terem sido devastados pela Segunda Guerra, os baby boomers dos anos 50, as relações econômicas com a Europa em reconstrução, e tantos outros fatores explicam o forte crescimento americano no período. Contudo, não há qualquer evidência nem nos Estados Unidos nem em qualquer parte do mundo que a taxação de grandes fortunas possam levar ao crescimento econômico, a própria Europa, especialmente a França de Piketty, novamente contradizem o autor. Por que desde os anos 80 a França tem visto boa parte da fortuna do país e dos jovens mais talentosos migrarem para o Reino Unido.

Os Estados Unidos foram os primeiros a desenvolver educação de massa, com alfabetização quase universal - entre os homens brancos, de toda forma - no início do século 19, um feito que a Europa precisaria de mais 100 para conquistar. Mas, novamente é a Europa que é atualmente mais inclusiva. De fato, os Estados Unidos produziram a maioria das melhores universidade do mundo. Mas, a Europa foi mais competente em criar sólidas universidades médias. De acordo com o ranking de Xangai, 53 das 100 melhores universidades do mundo estão nos Estados Unidos, e 31 na Europa. Observe, no entanto, as 500 melhores e a ordem será invertida: 202 na Europa contra 150 nos Estados Unidos. 

Thomas Piketty começa a revelar o que realmente desejam todos aqueles que defendem a igualdade de renda: a mediocridade. Não para não rir, e para não lamentar a inveja que parece mover estes pensadores. O professor comemora o fato de que a Europa foi melhor em criar universidades de qualidade média que os Estados Unidos. Se conclui, portanto, que para Piketty, e muitos do que os seguem, os Estados Unidos tem um problema por criarem as melhores universidades do mundo, deviam aprender com os europeus a criar instituições apenas medianas onde todos seriam iguais na mediocridade. E o que é pior, o argumento é frágil. Os Estados Unidos são um único país com 314 milhões de habitantes e possuem 150 das 500 melhores universidades, a Europa, que tem o dobro de população com 740 milhões de habitantes possui 220 universidades. 

As pessoas costumam comentar das virtudes de suas meritocracias nacionais, mas - seja na França, na América, ou em qualquer lugar - esta retórica raramente corresponde aos fatos. Quase sempre o objetivo é justificar as desigualdades existentes. Acesso às universidades americanas - um dia entre as mais abertas do mundo - é altamente desigual. Construir sistemas de ensino superior que combinem eficiência e oportunidades iguais é o maior desafios que enfrentam todos os países.

As universidades americanas de ponta estão na vanguarda de uma popularização jamais vista no ensino superior. É totalmente acessível para qualquer indivíduo de qualquer lugar do mundo através de uma conexão com a internet. Permitindo assistir gratuitamente cursos de universidades como Harvard ou Stanford. Piketty não explica como a meritocracia é apenas uma forma de justificar as desigualdades, mas, a superficialidade de seus argumentos parece ser a sua marca.

Educação de massa é importante, mas, isto não garante uma distribuição justa de renda e riqueza. A desigualdade de renda tem aumentado nos Estados Unidos desde os anos 80, amplamente refletindo os enormes ganhos da população no topo. Por que? Teriam as habilidades do executivos avançado mais que a de todos os outros? Em grandes empresas é difícil saber quanto vale o trabalho de cada um. Mas, outra hipótese - que os executivos do topo têm o poder de definir os seus próprios salários - é mais condizente com as evidências. 

O trabalho de Piketty fica a cada instante mais claro que é baseado em suposições, ainda que seus colegas de esquerda tenham exaltado o seu extenso trabalho de pesquisa. Segundo, o professor, sem que comprove sua hipótese, a desigualdade de renda tem crescido graças a ganância dos executivos de topo, que dotados de grande poder podem determinar os seus próprios salários livremente. De fato, especialmente nas empresas americanas observa-se pacotes agressivos de renumeração, que extrapolam os resultados entregues por vários dos CEO`s beneficiados. 

Contudo, a renumeração de um CEO e diretores é definida não por ele próprio, mas, pelo Conselho de Administração das Empresas formados pelos acionistas das mesmas. Além disso, Piketty esquece que o maior incentivo para estes pacotes agressivos vem de políticas keynesianas que ele tanto defende, que jogam montanhas de dinheiro na economia. O excesso de liquidez tão defendido pelos keynesianos, ao qual Piketty se alinha, torna o investimento em capitais de retorno rápido mais atraentes que o investimento produtivo, de retorno mais demorado. 

Ainda que a desigualdade de salários fosse controlada, a história nos fala de outra força maligna, que a tende a elevar modestas desigualdades de renda a níveis extremados. Isto tende a ocorrer quanto o retorno obtido pelos donos do capital crescem  mais que a economia, dando aos detentores do capital porções maiores do espólio, às custas da classe média e dos mais pobres. Foi devido ao retorno do capital ser maior que o crescimento econômico que a desigualdade piorou no século 19 - e estas condições estão propícias a se repetir no século 21. De acordo com o ranking de bilionários da Forbes, a riqueza dos mais ricos tem crescido a uma velocidade 3 vezes superior ao crescimento da economia mundial entre 1987 e 2013. 

Uma características dos economistas keynesianos é considerar a economia como uma jogo de soma zero, onde para que alguém ganhe outro precisa perder. Ou seja, os ganhos dos mais ricos só podem acontecer através da exploração dos mais pobres, e o oposto também seria verdade, para que os mais pobres possam ganhar, os ricos teriam que perder. A avaliação superficial de Piketty se repete. Ao analisar o crescimento da riqueza dos bilionários. O professor ignora que temos visto surgir um grupo mais heterogêneo de bilionários ao redor do planeta. Entre 1987 e 2013 aumentou a presença de mulheres, de jovens e de novos ricos oriundos de economias emergentes, como Brasil, China, Rússia,Índia e África do Sul, o que revela mais uma vez a fragilidade de seus argumentos. 

A desigualdade atual nos Estados Unidos é tão grande, e o processo político está tão capturado pelos mais ricos, que isto não irá acontecer - muito parecido com a Europa antes da Primeira Grande Guerra. Mas, isto não deve nos desmotivar a lutar por melhorias. A solução ideal poderia ser uma taxação global progressiva sobre a riqueza individual. Aqueles menos ricos pagariam menos, enquanto os que possuem bilhões pagariam bilhões. Isto manteria a desigualdade sob controle e tornaria mais fácil para os que pretendem crescer. Ainda colocaria a dinâmica da riqueza global sob escrutínio público. A ausência de transparência financeira e estatísticas de riqueza confiáveis é um dos maiores desafios das democracias modernas. 

Lá vem os keynesianos querendo taxar tudo. Bem, quem ficaria responsável pela taxação e quem definiria o destino a ser aplicado a estes recursos? Talvez seres iluminados como Piketty. É nestas horas que estes indivíduos revelam a motivação de suas ideias: a inveja. Falam em igualdade e em justiça, mas, defendem que aqueles que tiveram sucesso em construir suas fortunas paguem mais, para que sujeitos como ele, que dedicam suas vidas a produzir estudos duvidosos, possam pagar menos e assim ascenderem mais facilmente. 

Quanto à afirmação de que as democracias modernas estão ameaçadas pelo poder econômico dos mais ricos, que cooptam o processo político em prol de seus interesses encontram poucas evidências no mundo atual. Temos visto sim, o avanço do Estado sobre a economia, inclusive nos Estados Unidos, citado por Piketty. 

É claro, existem alternativas. A China e a Rússia, também precisa lidar com as ricas oligarquias, e eles fazem isto com suas próprias ferramentas - controle de capitais e cadeia pode conter as oligarquias mais ambiciosas. Para países que preferem o império das leis e uma ordem econômica internacional, taxação global sobre riquezas é uma aposta melhor. Talvez a China faça antes que nós façamos. 

Inflação é outra solução em potencial. No passado ela auxiliou a diminuir o peso da dívida pública. Mas, isto também erodiu as poupanças dos mais pobres. Uma taxa sobre grandes fortunas parece melhor.

A faceta autoritária de Piketty não podia tornar-se mais clara agora. China e Rússia são dois países que representam a pior forma de desigualdade, a provocada pelo Estado. Nestes países, as fortunas são criadas não pelo mérito ou pelo esforço empreendedor, mas, principalmente pelas conexões com o governo - semelhante ao que ocorre no Brasil com pouco menos clareza. Ao mesmo tempo em que defende a democracia, demonstra admiração por duas ditaduras. 

Nada mais keynesiano que apontar a inflação como solução para qualquer coisa. Felizmente, ele reconhece que o recurso inflacionário penaliza principalmente aos mais pobres. 

Uma taxa global sobre riqueza requereria cooperação internacional. É difícil, porém, viável. Os Estados Unidos e a Europa são cada um responsáveis por 1/4 da riqueza mundial. Se eles quisessem se unir, um registro global sobre os ativos financeiros poderia ser realizado. Sanções poderiam ser impostas a paraísos fiscais que se recusassem a cooperar. 

Menos que isso, muitos poderiam se virar contra a globalização. Se algum dia, eles encontrassem uma voz comum, eles gritariam os esquecidos mantras do nacionalismo e da isolação econômica.

Mais autoritarismo, agora para punir os países que não seguissem a proposta do professor francês. Depois, ainda se diz preocupado com a democracia. Chegamos ao fim do artigo do Piketty sem que ele explicasse porque o mundo deveria, utilizando de medidas autoritárias, promover a igualdade de renda. 

Thomas Piketty, é apenas mais um dos economistas sustentados por Estados inchados, que tentam apresentar soluções para os problemas que as suas ideias criam. Taxar as fortunas dos mais ricos não melhoraria em nada a vida dos mais pobres, pelo contrário, como mostrei em meu texto anterior (aqui). 

Os maiores beneficiados pelas ações propostas por Piketty não seriam os mais pobres, mas, sim pessoas como o próprio professor, acostumados a viver às custas dos benefícios do Estado que receberiam ainda mais do governo para dedicarem uma vida inteira apenas a propagar ideias absurdas. Aos mais pobres restaria perder todos os benefícios que a desigualdade de renda lhes proporciona, e único alívio seria saber que é menos pobre comparado aos mais ricos, não porque enriqueceu, mas, porque o rico empobreceu. 

A desigualdade de renda é natural num sistema de livre mercado, e necessária para o contínuo desenvolvimento e melhoria do mesmo. Há ainda nas ideias de Piketty e outros que compartilham de sua visão de mundo, um componente moral ignorado. Qual é  a justificativa moral para que um indivíduo seja penalizado por ter sucesso? Que tipo de justiça é essa, que tira de alguém que honestamente construiu sua fortuna, para repartir entre aqueles que nada fizeram para obtê-la? 

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