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segunda-feira, 10 de março de 2014

Como as nossas cidades são erguidas.

Os espaços urbanos nos dias atuais adquirem novo significado. Em Itapetinga não é diferente.

Itapetinga está localizada numa posição estratégica. No meio do caminho entre algumas das regiões mais ricas do interior da Bahia, ligando Vitória da Conquista, terceira maior cidade do Estado a Itabuna e Ilhéus na região Sul, e a Porto Seguro, Eunápolis e Teixeira de Freitas no Extremo Sul. Sua posição geográfica a coloca próxima do norte de Minas Gerais e o Espírito Santo. 

Sua economia é baseada na indústria frigorífica e calçadista. O comércio é voltado principalmente para itens básicos como alimentação, higiene, drogarias, variedades e vestuário. No setor de serviços destaca-se a área de saúde. 

A exposição agropecuária e o São João são dois eventos que atraem um grande público de outras regiões, sendo os principais motores do turismo local. 

O ensino superior tem papel relevante na cidade, atraindo estudantes das cidades do entorno, de toda a região sul da Bahia, de Minas Gerais, e em menor número de outras áreas. Estes estudantes estimulam os serviços, alimentação fora de casa, e aluguel de imóveis. Suas origens diversificadas também contribuem para promover um maior dinamismo social e cultural. 

A produção agropecuária caracteriza a cidade, oferecendo-lhe uma marca própria, reconhecida e estimada, de capital da pecuária, tendo como símbolo mais conhecido a praça do Boi.

A sua população apresentou saltos significativos nos últimos anos, houve um intenso processo de urbanização, e ela não escapou do processo globalizante, que aproximou as cidades de todas as regiões do país, inseridas num contexto de popularização, massificação e padronização. Seu processo de ocupação é muito semelhante ao de qualquer outro município grande ou pequeno. 

Uma ocupação construída primeiramente na dicotomia centro-periferia. E nos últimos anos, em um processo de expansão nas bordas, com o surgimento de diversos bairros, praticamente a partir do zero nos limites da cidade. 

Esta expansão em blocos cria cidades fatiadas, com aglomerados em blocos, desconexos. O movimento é facilitado pelo aumento da acessibilidade dos serviços. É possível ter acesso a água encanada, eletricidade e telecomunicações mesmo em áreas distantes. A posse do veículo próprio torna tudo próximo. Dirigir-se ao mercado no centro torna-se tão acessível de carro, quanto era ir na quitanda da esquina a pé no passado. 

O centro perde a sua função e sua razão de ser centro. Entra em decadência, antiquado, desajustado para os novos tempos, quase sempre acanhados. Logo, deixam de corresponder as necessidades e as aspirações da nova economia, são a representação do passado e do velho. Aquilo que deveria ser mudado. 

Do outro lado, os novos bairros são vendidos como centros de qualidade de vida. Espaços de felicidade protegida por muro. Destacados da decadência violenta e pobre que fica do outro da guarita. Criados na forma de mini-cidades, capazes de dispor tudo aquilo que uma pessoa precisa para ser feliz: calçadas para caminhar, lagos para molhar os pés, piscinas para exibir aos amigos que ficaram do lado de fora, segurança de muros e câmeras e guaritas e cercas (elétricas) e vigias, academias de ginástica para manter a forma e a saúde, lojas exclusivas para os privilegiados e casas com modelos arquitetônicos limitados pela democracia coletivista impositiva do "bom gosto". Tudo isto sendo oposto da favela (todo o resto), local de desordem e anarquia onde ainda vivem os outros.

As cidades perdendo a sua característica espontânea, natural e representativa de quem fomos, de quem somos, e de quem seremos. Transforma-se então nas plantas de um arquiteto, viabilizadas pelos cálculos de engenheiros, e erguida por uma legião de pessoas que ali não poderão morar. 

A condominização da cidade parece inevitável. Antes, uma cidade era uma obra de autoria anônima por ser o resultado da contribuição de cada um dos seus cidadãos, por isto, mesmo imprevisível e inesperado. Hoje as cidades começam a ter assinaturas como o quadro de um artista. É o bairro projetado pelo arquiteto fulano de tal ou construído pela construtora fulana de tal. E os nomes antes originais, de origem duvidosa, passam agora a remeter ao éden, um paraíso da natureza, com nomes como Parque, Jardins, Horto, Reserva, Recanto, ou suas variações em inglês ou italiano como Plaza, Tree, Garden, Green, Blue, Lake, Piazza, Pallazzo e muito mais. A função do nome é reforçar a ideia de isolamento, uma reserva de natureza verde e límpida em meio à selva de pedra e asfalto cinza e negra.

Se as velhas cidades representavam os seus habitantes, sendo como um reflexo no espelho destes, hoje é o inverso. Os bairros prontos e acabados determinam os seus moradores, as suas características, os seus direitos e deveres, os seus horários, os seus comportamentos, tudo por uma boa convivência tranquila e harmoniosa entre vizinhos. Como uma máquina transformadora de bárbaros e seres altamente civilizados, tolhidos em suas atitudes e ações para se adequarem à vida naquele paraíso. É isto ou viver com os outros.

As cidades tornam-se meros espaços sem sentido, necessários apenas para suprir de bens e serviços que não devem sobre qualquer condição ser produzido ou executado nos limites do condomínio, servem também como local de moradia para os profissionais de apoio e manutenção do espaço (porteiros, vigilantes, jardineiros, pintores, eletricistas, pedreiros, babás). É também onde se localiza o trabalho dos moradores do paraíso, pois, as cidades são necessárias e boas os bastante para que ganhem o dinheiro que irá bancar as suas vidas nestas cidades projetadas. A cidade é sim, boa o bastante para gerar renda, mas, não é boa o bastante para viver ali ou permanecer além do necessário.

Ali prefeito é síndico, mais importante e influente que o prefeito da cidade. Com poder o suficiente para determinar o seu direito de ter um cachorro ou gato, onde pendurar suas roupas para secar, a cor da sua casa, as regras de sua festa, os horários de sua vida. 

A condominização das cidades brasileiras é tão ruim e nefasta quanto a favelização dos tempos passados. Ambos são como tumores no meio das cidades, clara e nitidamente fora do contexto, uma aberração, um subtração de harmonia. Porém, diferente da favela, um ambiente de virilidade, intensidade e movimento, os condomínios são o oposto, zonas estéreis,  limitadas, envergonhadas. 

E, comecei falando de Itapetinga, vamos terminar falando de Itapetinga. Por acaso, alguém têm dúvida que este movimentou já começou a chegar na cidade?



E, 

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