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terça-feira, 25 de março de 2014

O fim do capitalismo?

O Capitalismo entra em uma nova era. 

O dia em que o capitalismo irá acabar?

O escritor americano Jeremy Rifkin é autor de vários livros que abordam as mudanças econômicas provocadas pelo avanço tecnológico. É autor de best-sellers como O Fim dos Empregos e O Século da Biotecnologia. Nesta semana em sua coluna no NYT, Rifkin faz uma interessante abordagem dos efeitos que os avanços tecnológicos tem provocado na economia, com a redução dos custos de diversos bens e serviços ao ponto de se tornarem quase gratuitos. Segundo ele, o mundo estaria transitando de uma economia baseada no direito de propriedade para uma economia baseada no direito de acesso. O diagnóstico em seu conjunto é correto, mas, as conclusões são equivocadas. 

O texto completo traduzido você encontra aqui. Vamos analisar alguns trechos, o que ele escreve está em azul. 


Estamos começando a testemunhar um paradoxo no coração do capitalismo. O dinamismo inerente de mercados competidores está baixando de tal forma os custos que muitos bens e serviços estão se tornando quase gratuitos, abundantes, e não mais sujeitos às forças do mercado. A revolução tecnológica está trazendo esses custos a quase zero.
Os primeiros indícios do paradoxo surgiram em 1999 quando o Napster desenvolveu uma rede permitindo que milhões de pessoas compartilhassem música de graça, causando estragos na indústria musical. Fenômenos parecidos abalaram seriamente as indústrias de publicação de jornais e livros.

Rifkin, inicia seu texto tomando por base uma avaliação equivocada da história econômica. Novos produtos e serviços são criados e tornados obsoletos a todo momento na economia. Os primeiros casos não ocorreram com o compartilhamento de música na internet. Por exemplo, os jornais impressos. Antes eram a principal fonte de informação da humanidade, novas tecnologias foram surgindo e ele foi perdendo a relevância. Para sobreviver, precisaram se adaptar, aderindo a novas tecnologias, hoje muitos jornais disponibilizam conteúdo gratuitamente para seus leitores na internet. O modelo de negócios mudou, os jornais precisaram encontrar novas fontes de receitas, mas, continuam sendo jornais. 

A questão não resolvida é como esta economia do futuro funcionará quando milhões de pessoas puderem fazer e compartilhar bens e serviços quase de graça? A resposta está na sociedade civil, que consiste de organizações sem fins lucrativos que atendem às coisas na vida que fazemos e compartilhamos como comunidade. Em termos monetários, são uma força poderosa. As receitas dessas organizações cresceram sólidos 41% de 2000 a 2010, mais que o dobro do crescimento do Produto Interno Bruto, que cresceu 16,4% no mesmo período. Em 2012, o setor sem fins lucrativos nos Estados Unidos respondeu por 5,5% do PIB.

Aqui, RIfkin, começa a mostrar o que realmente está a defender. O fim do Capitalismo. Este seria substituído por uma economia solidária, sem fins lucrativos, que levariam todos os seres humanos a um estágio de cooperação e não mais de competição. O que o texto de Rifkin não deixa claro é quem irá financiar as organizações sem fins lucrativos? De onde virão as suas receitas? 

O que torna a comunidade social mais relevante hoje é que estamos construindo uma infraestrutura de internet das coisas que aprimora colaboração e acesso universal, cruciais para a criação de capital social e marcar o início de uma economia solidária.


Esta abordagem colaborativa em vez de capitalista diz respeito mais ao acesso compartilhado que à propriedade privada. Por exemplo, 1,7 milhão de pessoas em todo o mundo integram serviços de compartilhamento de carros. Uma pesquisa recente revelou que o número de veículos possuídos por participantes desse sistema caiu pela metade após sua adesão o serviço, pois os membros preferiram acesso em vez de propriedade. Milhões de pessoas estão usando sites de mídias sociais, redes de redistribuição, aluguéis e cooperativas para compartilhar não somente carros, mas também casas, roupas, ferramentas, brinquedos e outros itens, a um custo marginal baixo ou quase nulo. A economia solidária teve receitas projetadas de US$ 3,5 bilhões em 2013.

Rifkin até faz mais uma vez um diagnóstico correto do momento atual, mas, peca em tentar forçar a realidade para que corresponda às suas crenças. O que está havendo não é uma substituição do capitalismo por qualquer outro sistema econômico. Mas, sim uma substituição dos meios de produção a que estávamos acostumados. Estamos entrando na era das ideias, em que o valor de um produto se transfere dos seus componentes físicos para seus componentes ideológicos. Aliás, uma boa maneira de entender o fenômeno seria conhecer a incrementação industrial

A massificação provocada pela industrialização está levando os produtos físicos em si a perderem valor, provocando a queda no seu preço. Veja a Nike, que terceiriza toda a sua produção de tênis. Em termos técnicos um tênis Nike e outro de qualquer marca tem poucas diferenças, contudo, a simples assinatura Nike multiplica o valor da peça. 

O exemplo do acesso compartilhado não deixa de ser uma forma de propriedade privada. Afinal, mesmo que sejam vários donos ainda existem os donos daquele veículo, não é uma propriedade pública acessível para qualquer um. A ideia do acesso compartilhado está diretamente ligada à maior participação de empresas pequenas e médias na economia, para estas empresas é inviável adquirir, por exemplo, todo o maquinário de uma grande empresa para atender um volume pequeno de produção. Neste cenário, nada mais correto, que dividir a propriedade de uma máquina com outras empresas na mesma situação. 

Seria bom ler os conceitos crowdsourcing, cocriação, crowdfunding e coworking.


O sistema capitalista deve permanecer entre nós por muito tempo, ainda que com um papel mais delimitado, principalmente como agregador de serviços e soluções de rede e prosperando como um poderoso operador de nicho. Entramos em um mundo parcialmente fora dos mercados, onde estamos aprendendo a viver numa comunidade cada vez mais interdependente, cooperativa e global

A análise de RIfkin é limitada porque está apontada apenas para os sintomas e não para os efeitos colaterais. Como ele aponta, a internet é o meio que tem permitido essa maior integração e colaboração entre agentes econômicos. Hoje é possível realizar negócios com pessoas de qualquer parte do mundo sem que você nunca as veja. Isto torna o mercado muito mais competitivo, exigindo o maior grau de eficiência possível. Se antes apenas as empresas que competiam em mercados globais precisam obter o máximo de eficiência, hoje toda e qualquer padaria de bairro precisa fazer o mesmo, e nesta busca até mesmo aliar-se a um concorrente pode necessário e desejável. 

O que está ocorrendo atualmente na economia é uma comoditização de várias categorias de produtos, o que força os fabricantes a focarem não mais na diferenciação dos aspectos físicos da peça, mas, buscar uma diferenciação em termos de status. O que se vê é que os bens de capital é que estão tendo os seus custos reduzidos a quase zero, isto, porque especialmente nos países mais desenvolvidos a economia se desloca dos bens de consumo (estes hoje produzidos quase inteiramente na China), para uma economia no campo do intelecto. Ou seja, está perdendo cada vez mais espaço nas economias desenvolvidas o trabalhador braçal. O trabalho manual cede agora ao trabalho intelectual. Não é mais capacidade física o atributo mais valioso de um trabalhador, mas, sim sua capacidade mental. Trocam-se os braços pela mente. 

Há todo instante há pessoas decretando o fim do capitalismo. Rifkin é apenas mais um. Apesar de avaliar bem o cenário atual, Rifkin peca por colocar as suas crenças pessoais a frente dos fatos. O capitalismo está sempre se reinventando, e o mesmo está acontecendo agora. Quanto a uma economia baseada nas instituições sem fins lucrativos a questão que fica é: quem irá financiar estas instituições uma vez que as suas receitas vêm das companhias tradicionais?

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