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sábado, 28 de junho de 2014

Cinema: O Primeiro Mentiroso

Num universo de humanos que dizem apenas a verdade, um homem que descobre que tem o poder para dizer o que quiser, mesmo que seja uma mentira. Neste filme escrito e dirigido por Ricky Gervais mostra que sem um pouco de imaginação e ilusão o mundo seria melancólico e sem esperança.


Pense num mundo em que as pessoas apenas dizem a verdade sempre, não importa o que estejam pensando. As convenções sociais a que nos acostumamos não existiriam, com igual franqueza demonstraríamos o nosso desprezo ou a nossa admiração por outra pessoa. Sem qualquer sentimento de culpa revelaríamos o que estamos pensando e sentindo no momento, e sem constrangimento. A verdade seria a única opção, e sequer haveria uma palavra para descrevê-la, as pessoas confiariam em tudo o que você diz, afinal, tudo é sempre verdade. Este é o mundo criado Ricky Gervais, em O Primeiro Mentiroso

Gervais, é roteirista e diretor deste filme, que conta com um elenco de grandes estrelas. Além do próprio Gervais participam Jennifer Garner, Rob Lowe, Jonah Hill, Tina Fey, Phillip Seymour Hoffman, entre outros. 

Primeiro encontro: Humor tipicamente britânico

O início: uma grande ideia para um grande filme 

O início de O Primeiro Mentiroso nos deixa logo a impressão que teremos um grande filme pela frente. Sem abandonar o típico humor britânico, Gervais, parece nos trazer para uma grande reflexão sobre um mundo sem a mentira, consequentemente, sem imaginação ou ilusões, que nos fará refletir ao final. 

A forma como as pessoas se relacionam, sem pudores, é chocante no primeiro momento e proporciona momentos hilários. Logo, no início, vemos Mark Bellison, a personagem principal, em seu primeiro encontro com Anna Mcdoogles (Garner) por quem ele se apaixona. O primeiro diálogo entre os dois dar o tom ao filme. Anna se diz frustrada ao ver Mark, e como se fosse plenamente normal, conta que estava se masturbando antes dele chegar, já que suas expectativas com o encontro são baixas. Tudo é dito com extrema naturalidade. 

A Primeira Mentira
A vida de Mark não é das melhores, numa sociedade dividida entre os bem-sucedidos e os fracassados, ele certamente está no segundo grupo. Mas, as coisas parecem ir cada vez piores para o rapaz. E, quando sua vida chega ao fundo do poço, ameaçado de despejo, surge uma oportunidade de Mark contar uma mentira para salvar a sua pele. Ao contar a primeira mentira, Mark descobre que ele possui um poder que mais ninguém possui, de transformar a realidade com suas palavras, o que gera mais momentos hilários, como o que ele convence uma mulher a transar com ele para salvar o mundo da destruição. 

A mentira ameniza o peso da vida e o começo da religião

Não é apenas de momentos cômicos que o filme trata. A mentira, se mostra uma arma poderosa para melhorar a vida das pessoas. Mark, percebe que o seu dom tem o poder de transformar fracassados em pessoas bem-sucedidas (ele próprio), ou criar esperança para estes seres desprezados pela sociedade. 

O ápice acontece quando sua própria mãe (Fionula Flannagan) se encontra num leito de hospital a beira da morte, e num suspiro emocionado se diz assustada por morrer e ir para "uma eternidade de nada". Mark, então lhe conta sobre um outro mundo para onde as pessoas vão quando morrem, um belo lugar onde todos vivem em mansões e reencontram os seus entes queridos. A "mentira" alivia a dor da morte para sua mãe que pode descansar em paz. Mas, é ouvida pelos médicos e enfermeiras no quarto de hospital que ficam curiosos sobre este outro mundo.

Surge uma Religião
Logo, a notícia se espalha e Mark torna-se uma celebridade instantânea. Jornalistas do mundo todo acampam em sua porta para ouvir as palavras do acidental profeta. Percebendo a enrascada em que se meteu, ele decide criar as 10 leis escritas pelo "homem que habita no Céu" tem para a humanidade. Numa clara referência aos 10 mandamentos de Moisés, Mark também escreve suas leis em tábuas, que no seu caso são duas caixas usadas da Pizza Hut. Quando ele sai para revelar as leis do "Homem que habita no céu" uma multidão o aguarda e outro momento hilário acontece, quando as pessoas começam a questionar sobre o tal Deus e suas leis. 

A forma como trata da criação de uma nova religião é outro grande momento do filme. Ao mesmo tempo, que a religião parece ser uma demonstração de inocência e irracionalidade das pessoas, também é responsável por dar a elas esperança numa vida melhor e criar um sentimento que até então era exclusivo das pessoas de sucesso: a felicidade. 

O final: um sentimento de decepção para o que teria sido um grande filme

Infelizmente, Gervais, não foi capaz de sustentar toda a excelente ideia de seu filme. Do meio para o fim, o filme se torna numa melancólica e enfadonha tentativa de mostrar que aqueles que são considerados fracassados são no fundo grandes pessoas de bom coração. Em tese, são pessoas que superam a aparência fora dos padrões de beleza e seu fracasso profissional, com a gentileza, a cordialidade, a sensibilidade, que os bem-sucedidos, supostamente, não possuem. 

Nesta etapa, o filme perde o seu humor ácido e direto que cativam no início, e adquire uma espécie de cruzada politicamente correta, em prol dos rejeitados contra a arrogância e ganância daqueles que nascem bonitos e tem sucesso. Para coroar, ao final, a mocinha decide enfrentar a sociedade e seus altos padrões, para ficar com o indivíduo desprezível, mas, que por algum motivo roubou o seu coração. 

Ao chegar nesta etapa do filme, é bem provável que a maioria dos espectadores estejam apenas rezando para que ambos fiquem logo juntos e a decepção logo se encerre com o subir dos créditos. 

O primeiro mentiroso poderia ter alcançado, ainda que pudesse não ser esta a sua intenção, o status de grande filme, sobre o qual as pessoas travariam boas discussões. A função da verdade e da mentira na sociedade são apresentadas, bem como a questão das religiões servindo ao mesmo tempo como ferramenta de enganação e de esperança para a humanidade. 

O roteiro também não colabora muito, adicionando e abandonando muita coisa pelo caminho. Apesar, de um elenco estrelado, a maioria dos astros aparecem para fazer apenas pequenas participações, como é o caso de Tina Fey e Phillip Seymour Hoffman, ou acabam por ser pouco explorados em tudo que podem oferecer, como é o caso de Jonah Hill. A direção de Gervais, também não contribui para tirar dos atores o melhor que podiam trazer para a tela. Rob Lowe, surge apenas caricato na pele de Brad Kessler, um bonitão bem-sucedido que no fundo inveja mais que tudo o desengonçado Mark, de Gervais. Jennifer Garner é nada mais que um rosto bonito para chamar atenção. Apesar, de mostrar uma ótima veia cômica nas cenas de diálogo ácido do início do filme, ela passa a maior parte do tempo  fazeno caretas para a câmera, sem saber se devia rir ou chorar, demonstrar credulidade ou dúvida. 

Enfim, O Primeiro Mentiroso, é um bom filme para as horas vagas. O seu humor sutil e inocente, porém, ácido consegue muitas risadas. É uma ótima opção para quem quer apenas se distrair, mas, se você espera que as boas ideias apresentadas no filme possam ir além de uma boa risada, te direi a verdade este filme parece mais com um gorducho simpático de nariz arrebitado.

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