Num universo de humanos que dizem apenas a verdade, um homem que descobre que tem o poder para dizer o que quiser, mesmo que seja uma mentira. Neste filme escrito e dirigido por Ricky Gervais mostra que sem um pouco de imaginação e ilusão o mundo seria melancólico e sem esperança.
Pense num mundo em que as pessoas apenas dizem a verdade sempre, não importa o que estejam pensando. As convenções sociais a que nos acostumamos não existiriam, com igual franqueza demonstraríamos o nosso desprezo ou a nossa admiração por outra pessoa. Sem qualquer sentimento de culpa revelaríamos o que estamos pensando e sentindo no momento, e sem constrangimento. A verdade seria a única opção, e sequer haveria uma palavra para descrevê-la, as pessoas confiariam em tudo o que você diz, afinal, tudo é sempre verdade. Este é o mundo criado Ricky Gervais, em O Primeiro Mentiroso.
Gervais, é roteirista e diretor deste filme, que conta com um elenco de grandes estrelas. Além do próprio Gervais participam Jennifer Garner, Rob Lowe, Jonah Hill, Tina Fey, Phillip Seymour Hoffman, entre outros.
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Primeiro encontro: Humor tipicamente britânico |
O início: uma grande ideia para um grande filme
O início de O Primeiro Mentiroso nos deixa logo a impressão que teremos um grande filme pela frente. Sem abandonar o típico humor britânico, Gervais, parece nos trazer para uma grande reflexão sobre um mundo sem a mentira, consequentemente, sem imaginação ou ilusões, que nos fará refletir ao final.
A forma como as pessoas se relacionam, sem pudores, é chocante no primeiro momento e proporciona momentos hilários. Logo, no início, vemos Mark Bellison, a personagem principal, em seu primeiro encontro com Anna Mcdoogles (Garner) por quem ele se apaixona. O primeiro diálogo entre os dois dar o tom ao filme. Anna se diz frustrada ao ver Mark, e como se fosse plenamente normal, conta que estava se masturbando antes dele chegar, já que suas expectativas com o encontro são baixas. Tudo é dito com extrema naturalidade.
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A Primeira Mentira |
A mentira ameniza o peso da vida e o começo da religião
Não é apenas de momentos cômicos que o filme trata. A mentira, se mostra uma arma poderosa para melhorar a vida das pessoas. Mark, percebe que o seu dom tem o poder de transformar fracassados em pessoas bem-sucedidas (ele próprio), ou criar esperança para estes seres desprezados pela sociedade.
O ápice acontece quando sua própria mãe (Fionula Flannagan) se encontra num leito de hospital a beira da morte, e num suspiro emocionado se diz assustada por morrer e ir para "uma eternidade de nada". Mark, então lhe conta sobre um outro mundo para onde as pessoas vão quando morrem, um belo lugar onde todos vivem em mansões e reencontram os seus entes queridos. A "mentira" alivia a dor da morte para sua mãe que pode descansar em paz. Mas, é ouvida pelos médicos e enfermeiras no quarto de hospital que ficam curiosos sobre este outro mundo.
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Surge uma Religião |
A forma como trata da criação de uma nova religião é outro grande momento do filme. Ao mesmo tempo, que a religião parece ser uma demonstração de inocência e irracionalidade das pessoas, também é responsável por dar a elas esperança numa vida melhor e criar um sentimento que até então era exclusivo das pessoas de sucesso: a felicidade.
O final: um sentimento de decepção para o que teria sido um grande filme
Infelizmente, Gervais, não foi capaz de sustentar toda a excelente ideia de seu filme. Do meio para o fim, o filme se torna numa melancólica e enfadonha tentativa de mostrar que aqueles que são considerados fracassados são no fundo grandes pessoas de bom coração. Em tese, são pessoas que superam a aparência fora dos padrões de beleza e seu fracasso profissional, com a gentileza, a cordialidade, a sensibilidade, que os bem-sucedidos, supostamente, não possuem.
Nesta etapa, o filme perde o seu humor ácido e direto que cativam no início, e adquire uma espécie de cruzada politicamente correta, em prol dos rejeitados contra a arrogância e ganância daqueles que nascem bonitos e tem sucesso. Para coroar, ao final, a mocinha decide enfrentar a sociedade e seus altos padrões, para ficar com o indivíduo desprezível, mas, que por algum motivo roubou o seu coração.
Ao chegar nesta etapa do filme, é bem provável que a maioria dos espectadores estejam apenas rezando para que ambos fiquem logo juntos e a decepção logo se encerre com o subir dos créditos.
O primeiro mentiroso poderia ter alcançado, ainda que pudesse não ser esta a sua intenção, o status de grande filme, sobre o qual as pessoas travariam boas discussões. A função da verdade e da mentira na sociedade são apresentadas, bem como a questão das religiões servindo ao mesmo tempo como ferramenta de enganação e de esperança para a humanidade.
O roteiro também não colabora muito, adicionando e abandonando muita coisa pelo caminho. Apesar, de um elenco estrelado, a maioria dos astros aparecem para fazer apenas pequenas participações, como é o caso de Tina Fey e Phillip Seymour Hoffman, ou acabam por ser pouco explorados em tudo que podem oferecer, como é o caso de Jonah Hill. A direção de Gervais, também não contribui para tirar dos atores o melhor que podiam trazer para a tela. Rob Lowe, surge apenas caricato na pele de Brad Kessler, um bonitão bem-sucedido que no fundo inveja mais que tudo o desengonçado Mark, de Gervais. Jennifer Garner é nada mais que um rosto bonito para chamar atenção. Apesar, de mostrar uma ótima veia cômica nas cenas de diálogo ácido do início do filme, ela passa a maior parte do tempo fazeno caretas para a câmera, sem saber se devia rir ou chorar, demonstrar credulidade ou dúvida.
Enfim, O Primeiro Mentiroso, é um bom filme para as horas vagas. O seu humor sutil e inocente, porém, ácido consegue muitas risadas. É uma ótima opção para quem quer apenas se distrair, mas, se você espera que as boas ideias apresentadas no filme possam ir além de uma boa risada, te direi a verdade este filme parece mais com um gorducho simpático de nariz arrebitado.
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