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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Iniciando um novo negócio

Abrir uma empresa é como gerar um filho. Você até pode decidir certas coisas por ele, mas, ele ainda terá vida e ambições próprias. Há muitas pessoas interessadas na sua empresa, e administra-la bem é o melhor que você pode fazer por você, pela sua empresa, e para toda a comunidade

O Brasil costuma ser chamado de "o país mais empreendedor do mundo". É pouco provável que isto seja verdade, de fato. Mas, não dá para negar que desde o começo do novo século mais e mais brasileiros optam por montar um negócio próprio. Contudo, esse aumento do empreendedorismo não tem sido acompanhado na mesma velocidade, por uma maior capacitação para empreender.
Motivos para empreender segundo relatório do Sebrae
Fonte: administradores.com.br


Os stakeholders 

Estas são as principais razões para alguém abrir um negócio no Brasil. Basicamente, estão em busca de independência financeira e de tempo. É um desejo válido, mas, que acaba por jogar contra os mais despreparados. Tudo o que um empreendedor iniciante não tem é tempo e dinheiro. Ao montar uma empresa você está criando um ser vivo. Sim, um ser vivo, que tem personalidade, necessidades e motivações próprias. Uma empresa é como um filho, você gera, mas, ele não te pertence. Por isso, é um erro toda pessoa que afirma ser "dona" de uma empresa, não é. Pense num filho, você o gera, o põe no mundo, e pode até orientar o seu desenvolvimento, vai educa-lo, vai dizer o que ele pode ou não fazer, e acredite ele vai consumir muito do seu tempo e do seu dinheiro. A empresa é exatamente a mesma coisa.Primeira coisa, que você precisa saber antes de montar um negócio, é que toda empresa possui "stakeholders". São grupos que possuem interesse na sua empresa e que, portanto, participam e influenciam nos rumos do seu negócio. Voltando, ao exemplo do filho, os stakeholders de uma criança são seus pais, seus avós, os irmãos, primos e tios. Mas, são também o governo e a sociedade. Todos estes irão influenciar na criação do seu filho. O governo, por exemplo, terá interesse em sua educação, saúde e segurança. A sociedade tem interesse que o seu filho compartilhe os valores e princípios que ela valoriza. Numa empresa os principais stakeholders são:
  • Proprietários
  • Investidores
  • Empregados
  • Fornecedores/subministradores da empresa
  • Associações empresariais, revolucionais ou profissionais
  • Comunidades onde a empresa tem operações: associações de vizinhos
  • Grupos Normativos
  • Governos municipais
  • Governos estatais
  • Governo federal
Considere cada um destes grupos quando estiver montando a sua empresa, analise as expectativas de cada um e procure correspondê-las. Acionistas, proprietários e investidores esperam que a sua empresa dê lucros, para recuperar o capital que investiram. Empregados, esperam que cumpra as leis trabalhistas, ofereça boas condições de trabalho e ofereça oportunidade de crescimento e valorização. Fornecedores, desejam vender para sua empresa e mais importante ainda que você pague. Sindicatos, tem interesse que você cumpra a legislação trabalhista e os acordos coletivos da categoria. A comunidade, tem interesse no sucesso da sua empresa, na prestação de bons serviços, e que a presença de sua empresa traga benefícios para a localidade, e não transtornos. Grupos normativos e governos, esperam que sua empresa siga as regulações do mercado, e cumpra com as obrigações tributárias, além de que contribua para o desenvolvimento. ONG`s, podem ter interesses variados dependendo do foco de atuação, mas, elas esperam que a sua empresa contribua para a melhoria daquilo que elas defendem. Os concorrentes, também tem interesse na sua empresa, no que você está fazendo,  o que podem aprender com você, e que a sua empresa respeite as regras de mercado.



Stakeholders são grupos que apesar de não serem, necessariamente, clientes de sua empresa, ainda assim estão interessadas no que você faz e o impacto que isso tem sobre os próprios interesses de cada grupo. 




Até aqui já deu para notar que você não cria uma empresa para si, mas, para o mundo não é?

Consumidores

Um erro comum, cometido por empreendedores iniciantes é montar uma empresa pensando nos próprios objetivos e limitações. Não construa uma empresa para si, mas, para os consumidores. 

Imagine que por alguma razão, você possui uma experiência inigualável para produzir casacos de frio. Mas, você vive no meio do sertão baiano. Não dará certo. 

É claro, que é recomendável que você trabalhe com aquilo que você conhece e possui experiência. Mas, o que deve definir que tipo de negócio você irá montar são os consumidores. Sempre eles. Muitas empresas fracassam por não colocarem o cliente à frente.

Fluent
A start-up Fluent foi fundada em 2011. Eles se propuseram um desafio respeitável: reinventar o e-mail. Eles desenvolveram uma ferramenta com ótimo desempenho e segundo o seu fundador superior ao Gmail, contavam ainda com o apoio e a exposição da empresa.
Um ano depois, contudo, a empresa já havia fechado as portas. Um dos fundadores alegou que o seu principalmente concorrente o Gmail, apesar de ser inferior ao Fluent, era bom o suficiente para a maioria das pessoas e por isso eles não conseguiram usuários o suficiente.

A sua empresa só faz sentido, se fizer sentido para os consumidores. Não importa quão bom seja o seu produto ou serviço, não é você quem decide isso, são os clientes. Foi o caso da Fluent, tinham o produto melhor que o existente no mercado, mas, as pessoas não estavam interessadas nessa melhoria, seja lá, qual fosse a melhoria do Fluent, não era suficiente para as pessoas. O fundador pode até considerar o seu produto melhor, os clientes não.

Concorrência

Quando pensamos em montar um negócio, muitas vezes encaramos a concorrência como uma referência. Observamos o que eles fazem, o que não fazem, quanto cobram, quem atendem, enfim. É sempre importante olhar para os concorrentes, mas, não caia no erro de ficar limitado a eles.

Imagine que numa determinada cidade tem uma barraquinha de lanches que vem sanduíches bastante recheados com todo tipo de alimento gostoso e gorduroso. Está sempre lotado e você decide montar algo parecido. Observa o que o concorrente faz e o copia. Mas, com uma proposta que você considera vencedora: seu sanduíche vai vim com mais recheio e será mais barato. Logo, você pensa não tem como dar errado.
Os primeiros clientes começam a aparecer, e seu concorrente responde na mesma moeda, vendendo ainda mais barato que você. Para não perder clientela, você é ainda mais ousado. Oferece refrigerante grátis. O seu concorrente oferece 2 por 1.
No meio de toda esta briga, chega um empreendedor de fora, que não conhece a cidade. Ele roda, roda, e só encontra as mesmas opções de lanche. Atento, ele decide, vai montar uma barraquinha de sanduíches naturais, com ingredientes frescos e sem tanto recheio. Por ser natural, ele não vende bebidas industrializadas, apenas sucos da fruta. O preço? É o dobro do que você e seu concorrente cobram. Os clientes? São tantos que ele já está pensando em ampliar.

Um erro comum de empresários iniciantes é focar nos concorrentes. Muitos negócios começam com o chamado "olho gordo". Você ver alguém fazendo algo e ganhando dinheiro, logo, você corre atrás para fazer também. Sua empresa não tem um futuro brilhante se começa assim.

O mercado é regido pela lei da oferta e da demanda. Não foi ninguém que a criou. É como a lei da gravidade já estava aí quando viemos ao mundo, e tudo que podemos fazer é aceitá-la. Toda vez que houver no mercado dois ou mais produtos idênticos ou similares o valor deste produto cai. E a preferência do consumidor é sempre pela empresa que ocupa a liderança. As demais empresas são vistas apenas como alternativa, quando a líder não pode atendê-los.

Observe seus concorrentes. Mas, procure diferenciar-se. Não limite-se a oferecer aquilo que eles já oferecem. Avalie se não há lacunas na oferta da concorrência que você pode preencher. Concentre-se nisso. 

Amplie a sua visão dos concorrentes. Não são apenas empresas semelhantes a sua que são seus concorrentes, qualquer empresa que ofereça um mesmo tipo de satisfação, mesmo que em outro setor também está competindo pelos mesmos clientes. Olhe além. Um cinema compete com bares, restaurantes e teatros pela preferência daquelas pessoas que procuram uma diversão noturna. O mesmo pode-se dizer de uma academia de ginástica. Mas, com aluguel de campos de futebol, escolas de natação, a prática de corridas de rua ou passeios de bicicleta. Quem procura qualquer uma destas opções busca prática de atividades físicas, mais saúde e qualidade de vida. 

Observe o comportamento destes outros concorrentes, você irá encontrar muitas ideias que você não encontrará estudando apenas as empresas em seu setor. Imagine um circo que oferece espetáculos teatrais. Ele se colocaria acima dos outros circos e também dos teatros. Quem faz isso? O Cirque du Soleil.

Mais por menos

Quando sua empresa apenas copia os concorrentes acontece o mesmo que as barraquinhas de lanche. Ela começa a oferecer mais por menos.

Veja as lojas de móveis e eletrodomésticos: Casas Bahia, Ricardo Eletro, Insinuante. Todas elas apenas repetem as promoções malucas. Mas, cada uma tentar oferecer mais para o cliente cobrando menos. Hoje a margem de lucro destas empresas é mínimo, e qualquer aumento de custo as faz perder competitividade.

Se é ruim para grandes empresas, imagine o impacto disso em uma pequena empresa ou que está apenas iniciando no mercado. A estratégia "mais por menos" é danosa e perigosa para a saúde do seu empreendimento. Além de reduzir as suas margens de lucro, acaba criando o círculo vicioso que faz seu produto ou serviço perde valor. O cliente se acostuma e então qualquer aumento de preço faz ele correr para o concorrente.

A melhor estratégia para qualquer empresa é "mais por mais" e "menos por menos". Se você realmente oferece mais para seus clientes, cobre esse algo mais. Não se preocupe se o "mais" que você está oferecendo realmente for relevante para o cliente ele aceitará pagar por isso. Mas, tome muito cuidado, se aquele algo a mais que você está oferecendo para seu consumidor não acrescentar em valor para seu produto ou serviço aos olhos do clientes, você irá elevar os seus custos. 

Faça as contas certas

Por fim, a última observação essencial no momento de abrir qualquer empresa é qual o investimento necessário.

 Um equívoco observado em muitos empreendedores iniciantes é analisarem apenas o custo do produto. Observo muitas pessoas que acreditam que podem ganhar muito dinheiro vendendo um produto que custa R$5 e que ele pode vender por R$10. "Lucros de 100%" eles dizem. 

O primeiro equívoco é que 100% de lucro não existe. Se você vende algo por R$10 e ele te custou R$5, o seu lucro foi de 50% ou R$5. Segundo, veja os custos mais comuns de qualquer empresa:


Chamamos de margem de contribuição a diferença entre o custo de um produto e o seu preço de venda. Ou seja, não é lucro, mas, a contribuição que cada produto ou serviço prestado dão as receitas da empresa e indiretamente ao lucro. 

Portanto, é preciso calcular bem. Uma empresa deve arcar com todos estes cursos citados acima. E mais os custos de vendas ou de produção. Por fim existem ainda impostos sobre lucros, e somente depois o lucro. 

Veja um modelo de Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), que detalha todos os custos que costumam haver numa empresa:


Um DRE apresenta os resultados de um período. Costumam ser feitos anualmente. Mas, podem ser feitos para qualquer período, diário, semanal e mais comumente semanal. Você ainda pode utilizar o DRE para simular os resultados operacionais de sua empresa. E verificar se realmente é viável. 

Não caia no erro, de achar que simplesmente porque um produto pode ser vendido ao dobro do custo de aquisição você irá ganhar muito dinheiro. Evite decepcionar-se ou pior prejuízos analisando mais cuidadosamente a viabilidade do seu produto ou serviço.


Estes conselhos são apenas um guia inicial para quem quer empreender. Existem muitos aspectos a serem observados, e continuaremos apresentando eles em posts futuros. É normal ter muitas dúvidas, por isso, procure administradores profissionais que te ajudarão a tomar as melhores decisões. Como você pode ver toda empresa tem uma série de interessados, portanto, empresas melhor administradas trazem grandes benefícios para a sua cidade e para o país. E o melhor aumenta os seus lucros e podem até um dia te dar menos livre.

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