Enquanto alguns vivem com sonhos. Outros transformam sonhos em realidade. A vida secreta de Walter Mitty nos mostra que mesmo o mais aparentemente patético dos homens pode esconder vidas grandiosas.
É possível identificar um excelente roteiro quando ele cria um mundo próprio limitado na projeção da película sobre a tela que faz todo sentido porque é bem conectado. Quando isto acontece tudo é válido e verossímil. Mesmo a história de um homem que nunca havia ido muito distante de sua própria cidade e de repente está viajando pelos locais mais fascinantes e inesperados do mundo.
Ben Stiller encarna Walter Mitty, um encarregado do setor de negativos da revista Life, na qual ele trabalha há 16 anos. A vida de Walter é o oposto do que propõe a revista, sua vida é pacata, repetitiva, controlada, sem sustos, hesitante, enfim, nada muito digno de nota. As maiores emoções de Walter, acontecem durante seus sonhos acordados em que realiza grandes proezas dignas de filmes.
As coisas começam a mudar quando a Life passa por uma reestruturação que irá levar a revista das edições impressas para o mundo virtual. Walter recebe então os negativos enviados por Sean O`Connell (Sean Penn) para aquela que seria a última edição da revista. Mas, um dos negativos, o 25 está faltando, e é exatamente aquele que deveria ser a capa desta edição especial. Walter precisa então correr contra o tempo para reencontrar o negativo perdido e salvar a última edição.
Na busca pelo negativo, Walter se transforma, enfrentando as suas limitações e vivenciando histórias reais dignas de seus sonhos. O filme encerra com uma bela resolução para a jornada de Walter Mitty.
Um excelente roteiro para um conto que entrou para os dicionários americanos.
O protagonista da história trabalha revelando imagens que sem o seu trabalho seriam apenas como pinturas pouco legíveis do mundo. Assim, como um negativo pode esconder uma fotografia magnífica, parece ser também este o caso de Walter Mitty.
Steven Conrad roteiriza o conto do escritor americano James Thurber escrito em 1939 sobre o sonhador Walter Mitty e publicado na revista The New Yorker. O sucesso do conto foi tão grande que entrou para o vocabulário americano como sinônimo de um sonhador inofensivo. Seu alcance pode ser visto na descrição do beagle mais famoso do mundo, apontado como portador do Complexo de Walter Mitty. Ou ainda, no exército americano que costuma afirmar que alguém que sonha em entrar para as Forças Armadas, mas, não demonstra qualquer aptidão para isto é chamado de Walter.
O fato da personagem trabalhar numa revista chamada Life (vida, em nosso português) e que é devotada a explorar e conhecer o mundo também é uma ironia interessante.
O antagonista da história é Ted Hendricks (Adam Scott), executivo contratado para realizar o processo de transição na empresa. O trabalho de Ted nas empresas em que atua é cortar cabeças e reduzir custos. A chegada de Ted faz Walter viver. O estilo intimidador e provocante do executivo faz com que ele saia dos porões da revista e embarca numa das maiores viagens de sua vida.
Ted é tão antipático quanto o trabalho que tem a realizar na empresa. Mas, ele representa na vida de Walter a mesma transição que ele implanta na Life, e que Walter está vivendo em sua vida. Transições são sempre antipáticas e amedrontadoras no começo, mas, então você as enfrenta e percebe que pode vencê-las. Logo, você percebe que elas eram apenas "babacas" que só conseguem chamar alguma atenção, agindo assim na vida.
O roteiro é bem construído por desenvolver bem as suas personagens, principalmente o protagonista, explorando as suas potencialidades na tela. O sucesso como skatista na infância, voltam para ajudar Mitty em suas viagens e para se aproximar de Cheryl (Kristen Wig).
Uma bela história sobre as mudanças da vida
O filme tem cerca de 114 minutos, mas, não é cansativo. Pelo contrário, Ben Stiller acerta no tom de drama e comédia neste filme dosando no momento certo para que a história não se transforme num dramalhão ou que se perca nas comédias de qualidade duvidosa que o próprio Stiller já participou.
A atuação de Stiller e as boas presenças de Shirley Maclaine (Edna), Kathryn Hahn (Odessa), e Sean Penn engrandecem o filme, todos dando aos seus personagens o humor e o drama na medida em que pedem. Adam Scott merece também uma menção pelo seu trabalho, sua personagem, Ted Hendricks não é muito se não um cara antipático e chato (sem ser redundante) e ele não faz muito além disto na tela.
Os cenários escolhidos cativam pela beleza e acabam se tornando também personagens do filme com seu misto de beleza e perigos que movimentam a história.
Este filme merece ser visto por sua história leve e agradável, ao mesmo tempo por ser uma obra motivadora que nos faz começar a querer "ver o mundo. Encontrar o outro. Sentir. Esse é o propósito da vida."
Leia também o excelente conto de James Thurber que inspirou o filme (aqui
).
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