A crise econômica de 2008 recobrou o fôlego da intervenção estatal na economia. A livre iniciativa, o estado mínimo, começavam a apresentar resultados positivos significativos em várias partes do mundo, especialmente entre as nações emergentes. Na América Latina, Brasil, Chile, Peru, Colômbia, para citar alguns, viram suas economias crescerem aceleradamente, ao mesmo tempo em que novas e poderosas empresas surgiam da noite para o dia. A quebra do Lehman Brothers e o pânico generalizado que provocou ao redor do mundo, deram munição para que governos defensores da intervenção do Estado na economia obtivessem apoio para suas teses. A intervenção do governo Obama em empresas privadas nos EUA foi o golpe final no livre mercado. Se o país mais liberal do mundo estava intervindo na economia, todos podiam e deviam fazer o mesmo. Esta é uma discussão ideológica que vem de longe, e longe ainda irá.
No Brasil a ideia do Estado como
indutor do desenvolvimento sempre contou com numerosos defensores. A origem vem da formação do nosso capitalismo, no
início do sec. XX. Naquele tempo faltava ao país uma poupança privada, capaz de
realizar os investimentos na indústria e na infraestrutura que o país
precisava. Éramos uma República ainda no berço, e a escravidão apenas
recentemente havia sido abolida. Portanto, era o Estado o único capaz de acumular
o Capital necessário para efetuar os investimentos.
No país faltava de tudo, de infraestrutura
a insumos básicos demandados pela indústria nascente. O Estado então assumia a
função de financiar as novas indústrias e em certos setores de ser ele próprio
o produtor. Logo, sempre que havia uma lacuna na economia que a iniciativa
privada não supria, o Estado iria suprir. Esta politica ficou conhecida como substituição
de importações.
Para implantar tal política, o Estado
dispunha de dois meios: cobranças de impostos e endividamento interno e externo.
O fazia, portanto, cobrando de todos para beneficiar aos escolhidos. O
resultado é que o capitalismo brasileiro assumiu a forma de capitalismo de
Estado. Uma forma híbrida que ao final não é nem capitalismo, tampouco, seu
oposto o socialismo. No Capitalismo de Estado os lucros tendem a ser privados,
e os custos e perdas socializados.
Em termos práticos e culturais, o nosso
Capitalismo Estatal criou uma iniciativa privada sem iniciativa, altamente
dependente do governo, por este controlada e guiada. O resultado foi a formação
de um setor privado ineficiente, pouco inovador e protecionista. Os quadros a
seguir comprovam: (clique na imagem para
ampliar)
O grupo formado pelas 10 empresas de maior receita do Brasil em 2013 atuam todas em setores fortemente controlados pelo Estado, seja por meio de planificações, regulação tarifária ou incentivos fiscais: petróleo e energia, mineração, automobilístico, produção agrícola e telecomunicações.
Nos próximos quadros comparemos as 10 maiores empresas em valor de mercado no Brasil e nos Estados Unidos: (clique nas imagens para ampliar)
Quando comparamos as empresas mais valiosas do Brasil e dos Estados Unidos fica evidente que o Capitalismo de Estado Brasileiro limita o nosso desenvolvimento. Lá 4 das 10 maiores empresas são do setor de tecnologia, aqui nenhum. Estamos ainda concentrados em setores extrativistas.
O protecionismo é uma das consequências da relação muito próxima entre empresas e Estado. Em troca de cumprir os planos do governo, quase sempre as empresas cobram em troca a proteção do mercado à presença estrangeira. Protegidas da competição externa, as empresas nacionais não são estimuladas a buscar maior eficiência, inovação ou a partir na busca de novos mercados. Na lista da Fortune para as 500 maiores multinacionais do planeta o Brasil, dono do sétimo maior PIB global possui apenas 7 representantes, Reino Unido em sexto lugar no ranking do PIB possui 30. Veja o ranking a seguir, a maioria dos países a frente do Brasil possui PIB inferior ao nosso. (clique na imagem para ampliar)
O entrave ao desenvolvimento provocado pela intervenção do Estado na economia é que o nosso capitalismo não consegue desvencilhar-se da proteção estatal. O resultado é um desenvolvimento dependente da capacidade gerencial do governante, ineficiente, pouco inovador e incapaz de transpor as fronteiras nacionais, defendem barreiras para a entrada de estrangeiros e evitam partir para competir no exterior. Os gráficos mostram que a nossa força produtiva ainda se concentra na chamada velha da indústria, e chegamos sempre atrasados no setores mais dinâmicos e inovadores como é o de tecnologia atualmente.
As pequenas reformas para reduzir a participação do Estado na economia dos anos 90, apresentaram em pouco tempo resultados. Várias empresas nacionais se aventuraram no exterior e hoje temos mais multinacionais do que jamais tivemos. Novos setores começaram a ganhar relevância no cenário econômico. Contudo, a crise econômica de 2008 abriu brecha para que houvesse um recrudescimento e retorno para a situação anterior e o Estado brasileiro voltou a intervir fortemente na economia.
Em termos de administração o problema da intervenção estatal na economia é distorcer todo o ambiente econômico. Devido a seu poder restritivo, punitivo e seletivo, o Estado cria situações artificiais que desestimulam o progresso. Uma empresa que recebe benefícios ou facilidades estatais não buscará aumentos de produtividade, saltos de inovação, ou ampliação do mercado. A realidade é oposta a desejada, empresas beneficiadas tornam-se menos eficientes, erram mais nos investimentos, e muito comumente quebram quando perdem a proteção do Estado. A razão é simples. É anti econômico realizar algum esforço para obter um resultado, que será obtido sem esforço nenhum.
A competição entre empresas e as incertezas do mercado, são a mola do desenvolvimento. Empresas que atuam num cenário de competição acirrada sabem que precisam exceder nas expectativas dos consumidores para conquista-los e mantê-los. O maior beneficiado de um mercado sem intervenção estatal é em última instância o consumidor, que tende a receber produtos e serviços melhores a preços menores. As empresas criadas nestes mercados são também mais competitivas, aumentando sua capacidade de reagir a chegada de empresas estrangeiras, e com maiores chances de sucesso quando decidem explorar novos mercados. O país, por fim é também beneficiado, quanto mais fortes as suas empresas mais forte ele será.
Há situações em que a presença do Estado é necessária, e como dito no início do post, foi o caso do Brasil no começo do século passado. O problema em nosso país é que o Estado nunca saiu de cena, e é isso que abordaremos no post seguinte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário