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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Confiança

Eu creio que você já ouviu falar no Custo Brasil. É o custo de se fazer negócios no país. Ele reflete os elementos que causam a baixa competitividade de nossa economia e serve para explicar porque tudo em nosso país é tão caro. O que raramente se ver é atenção a um dos elementos embutidos no Custo Brasil mais difíceis de dimensionar e que é também um dos mais importantes: a confiança.
Uma economia em que impera a confiança é mais produtiva, os custos são menores, as interações mais diversificadas e satisfatórias. A falta de confiança geras custos adicionais que simplesmente não existem onde as pessoas costumam ter um alto grau de confiança entre si. Não é o caso brasileiro, infelizmente.
A falta de confiança foi quem eliminou os cheques da vida dos brasileiros. O empresário prefere pagar uma taxa de 2% a 5% sobre o valor das vendas no cartão de crédito ou débito, a aceitar um cheque. E a razão é tão somente a falta de confiança nesta forma de pagamento. Este custo adicional entra no preço final.
A desconfiança ainda gera contratempos. Quem costuma fazer compras pela internet já passou pelo problema de precisar deixar alguém de prontidão no local da entrega. Ou tentar agendar um horário com a entregadora. Numa comunidade em que impera a confiança entre os cidadãos a encomenda poderia ser deixada na porta do cliente e ele a receberia quando chegasse. Ou a entrega podia ser feita ao vizinho mais próximo. Por aqui não há chances das empresas correrem este risco. Elas farão mais de uma viagem para fazer a entrega, ou você que fique preso dentro de casa para receber.
A nossa burocracia também reflete a falta de confiança que existe na sociedade brasileira. Cada exigência burocrática por mais estúpida que seja se baseia em alguma desconfiança. Quando você é obrigado a carimbar, autenticar, reconhecer firma de um documento o que se pretende é que você prove oficialmente que é de confiança.
Um estudo mostrou que até os anos 1960 nos EUA quando ainda havia entre os americanos um forte sentimento de confiança entre seus cidadãos, a produtividade e a economia cresciam a uma taxa maior que a verificada após este período.
As nossas empresas perdem muito em competitividade por nossa baixa confiança uns nos outros. A maioria das pequenas empresas têm seu crescimento limitado porque não confiam num estranho para gerir seus negócios. Com isto nossas empresas ficam limitadas aos parentes, amigos e conhecidos, a maioria deles desqualificados para assumir a posição que ocupam.
Imagine como seria a nossa vida se perdêssemos completamente a confiança uns nos outros. Precisaríamos comprar balanças de precisão para garantir que os produtos realmente pesam aquilo que indicam no rótulo. E não penso que estamos muito distantes disso.
Esta desconfiança fortalece a demanda por mais regulação estatal sobre as nossas vidas. Aumenta também o número de leis, regulamentações, portarias, normas, decretos, etc. para pôr na linha aqueles que ousarem sair dela.
Respire fundo para ler o que vem a seguir: O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento através da Coordenação Geral de Vinhos e Bebidas do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (MAPA/CGVB/DIPOV) elaborou uma série de Instruções Normativas para serem cumpridas até o fim do ano. Uma delas obriga as fabricantes de sucos em caixa a especificar no rótulo a porcentagem de polpa presente na bebida. Como é triste não confiar nos seus compatriotas.
Esta compreensão da confiança para o crescimento e saúde da economia nos faz pensar como os últimos acontecimentos tem servido para minar ainda mais a nossa confiança uns nos outros. Quando o partido da Presidente trata como heróis indivíduos sabidamente corruptos. Quando os casos de corrupção são relativizados. Quando a impunidade passa a imperar numa sociedade, tudo o que podemos fazer para nos proteger é desconfiar de tudo e de todos.
E, então você pode até não enxergar, mas, no Custo Brasil está embutido o custo da desconfiança. E porque você paga mais caro. E precisa tanto tempo e esforço para conseguir o que outros povos conseguem sem esforço algum.
Pergunta Final: Por que será que o Brasil tem sozinho mais cursos de Direito que todo o resto do mundo junto? E temos ainda o terceiro maior número de advogados por habitante do planeta?

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