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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Por que certos trabalhos essenciais pagam tão pouco?


Há poucas Ferrari nas ruas porque elas custam caro? Ou, porque custam caro existem poucas Ferrari nas ruas? Se a primeira sentença for verdadeira então a fabricante da Ferrari está cometendo um erro estratégico que está limitando a venda de seus veículos. Mas, se a segunda sentença estiver correta, então podemos dizer que a Ferrari é bem sucedida em sua estratégia de criar um produto de alto valor e que é exclusivo.  Pelo que sabemos da Ferrari ela é bem-sucedida no que faz. Portanto, a segunda sentença é a correta. 

Entender esta questão é importante para compreender o valor de todas as coisas disponibilizadas no mercado. E o trabalho é uma delas.  É comum entre aqueles que consideram o capitalismo um sistema injusto apontar que certas profissões essenciais para a sociedade são tão desvalorizadas.  Por exemplo, limpadores de rua e empregadas domésticas. 

O erro que se comete aí é definir o valor em função apenas de sua utilidade. Ora, o ser humano não vive mais que 3 a 5 dias sem água. No entanto, água é vendida quase de graça. Por outro lado ninguém precisa de ouro para viver. Mesmo assim, este é um dos elementos da natureza mais valorizados que existe. Se o valor das coisas estivessem ligados à utilidade então a água deveria custar ouro e o ouro custar o preço de um copo d'água. Da mesma forma, uma Ferrari e um carro popular deveriam ambos custar o mesmo valor. Por que não é assim?

O valor das coisas não é determinado apenas por sua utilidade. Mas, também por sua disponibilidade.  A mesma água que é vendida quase de graça no Brasil, vale muito no meio do deserto onde é escassa. O valor que um ribeirinho no Rio Amazonas dar a água é muito inferior ao que é dado no sertão nordestino. 

O valor é algo subjetivo. Varia de pessoa para pessoa. É, no entanto, definido por critérios objetivos. A oferta, a demanda e a possibilidade de substituição. Ou em outras palavras, poderíamos afirmar que um item terá maior valor a depender da dificuldade para obtê-lo e a possibilidade de substituí-lo. Quanto mais difícil for o acesso a um produto e quanto menos possibilidades houver de trocá-lo por um similar, então, maior será o valor deste produto. 

O trabalho segue esta mesma lógica. E esta é a razão pela qual certos trabalhos essenciais são desvalorizados. Há uma demanda alta por empregados domésticos. Mas, há também uma oferta grande de pessoas dispostas a realizar este trabalho. E não é difícil encontrá-las. Observe o que aconteceu nos últimos anos, por exemplo, com profissões como eletricistas, pedreiros ou pintores. A demanda por eles cresceu e a oferta não cresceu na mesma velocidade, e como é difícil substituí-los o valor dessa mão-de-obra subiu. 

O serviço de um empregado doméstico é fácil de ser substituído. Podemos trocar um empregado doméstico regular por um diarista. Ou, podemos nós mesmos fazer as atividades de casa. É mais difícil substituir um eletricista, por exemplo. E quanto mais qualificada a profissão menor a possibilidade de substituição. Você trocaria o serviço de um cirurgião especializado que considere muito caro, pelo trabalho de um enfermeiro? No caso de limpadores de rua e empregados domésticos o seu serviço pode ser substituído pelo de qualquer pessoa. Não é preciso especialização. 

Entender esta dinâmica é essencial para compreender como funciona o mercado de trabalho. E entender porque certos trabalhos por mais essenciais que sejam serão menos renumerados que outros aparentemente menos essenciais. Ajuda ainda na hora de decidir qual carreira seguir e avaliar se você está numa carreira promissora em termos de renumeração ou não. Nós costumamos supervalorizar nossa profissão. Mas, lembre-se, você não vive sem água, nem por isso pagaria o preço de uma Ferrari por um copo deste líquido essencial. 


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