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domingo, 9 de março de 2014

Itapetinga e Azaleia: A fama de caro do comércio local.

O comércio de Itapetinga é careiro. Esta é a percepção que tenho recebido dos próprios moradores locais com relação aos produtos e serviços oferecidos aqui. Antes leia aqui, aqui e aqui.

Ainda não irei me aprofundar neste post nas razões para que o comércio de Itapetinga tenha adquirido esta fama de caro, mais caro, inclusive que o de Conquista, uma cidade muito maior. Ficará para uma análise seguinte, neste post abordaremos as implicações da mudança no cenário econômico da cidade, apontados na postagem anterior (aqui). 

Iniciemos com o conceito de produto caro e produto barato. Estes conceitos são relativos, variando de um indivíduo para o outro ao longo do tempo. Existem muitas variáveis envolvidas na definição de um produto como caro ou barato, mas, as três que nos interessam são as seguintes: 


1. Preço do produto comparado à renda do consumidor: Se o consumidor deseja comprar um produto que está acima das possibilidades de sua renda, então ele será considerado caro. Por outro lado, se a aquisição de um produto representa uma parcela muito pequena da renda do consumidor ele é considerado barato.

2. Preço do produto comparado a seu valor de mercado: O valor de um produto é definido por uma série de variáveis. Mas, para simplificar vamos aos exemplos. Imagine uma Ferrari em ótimo estado sendo vendida por R$50 mil. Logicamente, qualquer pessoa consideraria o preço muito barato, uma vez que qualquer Ferraria vale muito mais que isto. Por outro lado, se fosse oferecido para venda um Fusca em más condições, pelo mesmo preço, consideraríamos o preço caro, pois, o valor do produto é muito inferior ao preço cobrado.

3. Preço do produto comparado às alternativas possíveis: Se você deseja adquirir um produto que é encontrado nas lojas A e B, sendo que na loja A ele é vendido a R$100 e na loja B o mesmo produto é vendido a R$120, logo, você definirá o preço da loja A como barato, e o preço da loja B como caro. 

Esta introdução foi necessária para que possamos compreender em que se baseia a percepção de que Itapetinga tem um comércio caro. Esta, aliás, parece ser uma percepção generalizada. O que traz efeitos negativos, inclusive para setores que praticam preços condizentes com outros mercados. '

Esta percepção provoca desconfiança no consumidor, o que o leva a evitar o consumo na cidade antes de investigar o preço em outros mercados. É comum ver consumidores, que se deslocam principalmente para Conquista para comparar os preços lá com os daqui. Por efeito, acabam comprando lá para não perder a viagem, quando a diferença entre os preços é pequena. 

Esta fama de caro é justificada?


Infelizmente, sim. As variáveis apontadas acima, são recorrentes em nossa cidade. No post anterior, apontei que Itapetinga sofre cada vez mais a concorrência de Vitória da Conquista e da internet. Em ambos é possível encontrar não apenas produtos de melhor qualidade, como também a preços menores. 

O preço de diversos serviços oferecidos na cidade não são condizentes com o nível de renda local. Compare o custo de aluguéis, por exemplo. O preço cobrado por imóvel aqui na cidade é o mesmo que se cobra em cidades maiores, como, Salvador. Acrescente, que o imóvel que será alugado na capital, tende a ser de melhor qualidade que o alugado aqui. 

Logo, o preço da oferta está acima das possibilidades de renda da maioria da população, o que, como apontado na variável 1 indica um produto caro. 

Com relação a segunda variável, o valor do produto. Frise-se que preço é diferente de valor. Preço é um quantitativo arbitrário determinado por aquele que oferece o produto ou serviço. Valor, é a percepção que o comprador de um produto atribui aquilo que ele está comprando. 

Ou seja, o valor de um produto é influenciado pelo material de que é produzido, a qualidade funcional, o status que acarreta, a forma como é oferecido, etc. Ou seja, o valor de uma oferta é subjetivo e emocional. 

Uma queixa recorrente entre os consumidores locais diz respeito à qualidade do que é oferecido e como é oferecido. A qualidade do atendimento, por exemplo, é uma das queixas mais comuns ouvida por parte dos consumidores. Assim, uma má qualidade no atendimento ou serviço prestado acarreta uma diminuição do valor da oferta, que deveria ser correspondida no preço.

E, com a facilidade que os consumidores possuem atualmente para comparar diferentes preços, isto aumenta a ocorrência da terceira variável, a comparação de alternativas. Logo, se os consumidores tem grande facilidade para consultar o preço em Conquista, em outras cidades, ou na internet, então isto afetará a percepção que ele tem do preço cobrado. 

O que ocorre, é que para aquele consumidor de Itapetinga, que não tem condições de consultar o preço de uma mercadoria em outras praças, então a sua percepção ficará limitada as ofertas disponíveis na cidade. Se, por outro lado, o consumidor tiver estas alternativas, podendo avaliar o preço em outras praças a qual ele tem acesso, então a sua percepção se baseará no espectro muito mais amplo de alternativas, tendendo a encontrar preços menores que aqueles aqui praticados. 

Os consumidores são menos exigentes quando estão pagando pouco por um produto ou serviço mal prestado. Ora, alguém que paga R$10 por algo que vale R$100, será menos exigente do que aquele que paga R$110 por algo que, sabidamente, vale os mesmo R$100. 

Esta fama de caro e de baixa qualidade, tem provocado efeitos mais devastadores na economia local que a diminuição no ritmo de atividades da Azaleia. Tenho apontado sempre, que a volta da Azaleia aos níveis anteriores teriam um efeito reduzido nas empresas de Itapetinga, favorecendo muito mais outras praças, como Vitória da Conquista. A menos que mudanças ocorram nas próprias empresas.

As implicações nas empresas locais.

A implicação mais óbvia é que a maioria das empresas locais precisaram reajustar para baixo os seus preços de modo a torna-lo mais competitivo com outras opções acessíveis aos consumidores locais. 

No entanto, nem sempre uma empresa pode simplesmente baixar o preço de seu produto. Afinal, ele possui custos que precisam ser cobertos para o bem da empresa. 

O grande desafio das empresas de Itapetinga atualmente está na capacidade de melhorar a gestão de seus negócios. Encontrar métodos mais eficientes e competitivos de negócio, de modo a igualar ou superar a concorrência. 

O processo não é nada fácil. As empresas precisarão oferecer produtos e serviços de melhor qualidade que os oferecidos atualmente ao mesmo tempo em que deverão cobrar menos. A gestão da eficiência está no centro das transformações. 

O tempo das vacas gordas chegou ao fim. A cidade cresceu, e a concorrência também cresceu, o consumidor tornou-se mais exigente, e dispõe agora de mais alternativas. 

Ainda que a queda na Azaleia tenha impactado na economia local, podemos afirmar, que ela apenas precipitou algo que mais cedo ou mais tarde aconteceria. Itapetinga atingiu um patamar de desenvolvimento em que novos crescimentos serão fruto do aumento da qualidade da oferta, mais que do aumento na quantidade de demanda.


Encerro no post seguinte esta análise da economia de Itapetinga, com base na relação entre a cidade e a Azaleia. Concluo apresentando as mudanças mais básicas que precisarão ocorrer nas empresas locais para se adaptarem ao novo cenário econômico. Leia o próximo post clicando aqui.

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