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sábado, 8 de março de 2014

Itapetinga e Azaleia: É hora de um divórcio amigável.

Tenho vivido por dois anos em Itapetinga e a minha percepção é que a cidade precisa negociar um divórcio amigável com a sua maior empresa. 

Em 2012 tivemos no Brasil o primeiro recuo no número de divórcios desde a nova lei que facilitou o processo em 2010. Não quero defender o fim de relacionamentos, mas, no caso da relação Itapetinga x Azaleia é chegada a hora de um divórcio amigável entre as partes.

O que quero dizer com isso? Desde a minha chegada à Itapetinga tenho visto previsões sobre o futuro da cidade sempre atrelados ao futuro da Azaleia. Ouço comentários de como há alguns anos atrás Itapetinga vivia um momento muito diferente do atual, onde as coisas funcionavam, aconteciam, novas empresas eram criadas e produtos vendiam como água no deserto. 


Aparentemente, no ano em que me mudei para a cidade em 2011 as coisas estavam muito mudadas. Empresas fechavam as portas, os consumidores estavam cada dia mais escassos e os produtos encalhados na prateleira. Desde então, todas as discussões que ouvi sobre o futuro da cidade sempre incluíam a situação da Azaleia como referência.

"Se a Azaleia fechar as portas Itapetinga fecha também", dizem por aí. "Ah, o problema foi que Itapetinga não atraiu nem uma outra grande fábrica, e a Azaleia está indo embora, por isso estamos assim", outro completa.

Sendo natural de Salvador, a maior cidade do Estado e terceira maior do Brasil, a ideia de que o futuro de uma cidade depende exclusivamente de uma empresa me parece estranho. Mas, admito que por ser Itapetinga uma cidade em tamanho muito menor que a capital, considerava lógico e verdadeiro este argumento. Contudo, como administrador este me parecia incompleto. 

Ao realizar as entrevistas para o IEEI pude ter um contato mais próximo com empresários locais e me convenci que Itapetinga atingiu um patamar de desenvolvimento que tornam o impacto de uma volta da Azaleia aos níveis anteriores muito menores do que foram passado. 

Uma melhora da Azaleia aos níveis anteriores teriam um impacto muito menor para Itapetinga.


A contribuição da Azaleia para o desenvolvimento de Itapetinga é incontestável. Ela criou uma economia que não existiria sem a sua presença. Graças aos empregos e renda gerados pela fábrica muitos ramos de atividade puderam se desenvolver, aproveitando a explosão da demanda que a empresa provocou. 

Uma grande variedade de novas empresas foram criadas, ramos pouco desenvolvidos na cidade cresceram, o comércio local passou por um processo de sofisticação melhorando a oferta de produtos e serviços.

Contudo, o processo estagnou-se. Nestes dois anos que vivo na cidade observei que o número de novos tipos de negócios surgidos na cidade foram próximo de zero. Apesar, da entrada de novas empresas em operação, a maioria ocorreu em segmentos já saturados, como vestuários, mercados de bairro ou farmácias. Para se ter uma ideia quantas novas pizzarias foram abertas na cidade nos últimos anos? 

O que se pode concluir é que o efeito de um retorno da Azaleia aos tempos áureos teria um impacto muito menor na economia da cidade do que houve no passado. Mais, em termos de desenvolvimento da cidade o impacto seria ainda menor. Ou seja, poderia até haver uma melhora no faturamento das empresas, mas, a cidade veria um impacto quase nulo no desenvolvimento de novos negócios.

E a razão para isto se encontra acima da Serra do Marçal. Em uma situação em que tudo o mais permanece constante, se houvesse uma melhora na Azaleia, o efeito do aumento do emprego e da renda em nossa cidade teria um efeito mais positivo para Vitória da Conquista do que para Itapetinga. Veríamos uma boa parte deste aumento de renda ser gasto no comércio conquistense, como já acontece com boa parte da renda gerada aqui. Isto porque Conquista possui um comércio provido de uma variedade de produtos e serviços melhores que os oferecidos cidade.

Ao longo dos anos 2000, todo o desenvolvimento de Itapetinga esteve atrelado à presença da Azaleia na cidade. Este processo está saturado e chegou ao seu fim. O modelo praticamente esgotou tudo o que poderia oferecer. E é preciso salientar, que os problemas de desenvolvimento da cidade não seriam resolvidos com a vinda de uma outra fábrica de grande porte. O resultado seria o mesmo. 

Nos próximos anos o desenvolvimento de Itapetinga dependerá muito mais de fatores internos, que externos como foi a vinda da Azaleia. As empresas locais terão o papel de protagonista no desenvolvimento da cidade, em que elas determinarão até que ponto esta cidade irá crescer e se desenvolver. 

Por estes motivos é que defendo o divórcio amigável entre Itapetinga e a Azaleia, daqueles em que os cônjuges se separam, mas, continuam amigos. Pois, Itapetinga cresceu, deixou de engatinhar e está pronta para dar os primeiros passos com suas próprias pernas. Será a capacidade das empresas e dos itapetinguenses de enfrentar este novo desafio que irá determinar o futuro desta cidade. 

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