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domingo, 9 de março de 2014

Itapetinga e Azaleia: um casamento que já viveu tudo o que podia.

antes de ler este post, leia este aqui.

Continuando o post anterior. Seguimos discutindo a relação entre Itapetinga e Azaleia. Porque as coisas nunca mais serão como antes.

No post anterior iniciei esta série com o intuito de discutir o futuro de Itapetinga a partir da relação entre a cidade e a Azaleia. Irei focar no possível impacto que uma improvável volta da fábrica aos seus altos níveis de produção anteriores teriam no desenvolvimento da cidade. 


Crescimento x Desenvolvimento


Primeiramente, é importante distinguir o significado de crescimento e desenvolvimento em termos da economia de uma localidade. Veja uma explicação simplificada sobre o tema.

 O crescimento econômico é um dado bruto, representado pelo aumento da riqueza produzida em determinada localidade. Enquanto, desenvolvimento econômico é um dado mais complexo que se refere ao aumento de uma série de fatores como renda, oferta de produtos e serviços, qualidade de vida, oportunidades de emprego, ambiente de negócios, eficiência empresarial etc. 

Por exemplo, uma cidade que vendia 100.000 litros de leite e, estando todos demais fatores constantes passa a vender 120.000 litros de leite teve crescimento econômico. Podemos afirmar que ela não se desenvolveu, apenas, cresceu. Por outro lado, se esta cidade aumentou sua produção de leite adotando processos mais modernos, reduzindo custos e elevando a produtividade, então houve um aumento no desenvolvimento. 

Crescimento está ligado a quantidade. E desenvolvimento está ligado à qualidade.

O impacto da vinda da Azaleia não poderá ser repetido.


O aumento nas atividades na fábrica da Azaleia na cidade teriam, sem dúvida, um efeito positivo na economia local, mas, o seu impacto seria muito menor do que foi no passado.

A chegada da fábrica em Itapetinga provocou a transição de uma economia baseada na pecuária para uma economia urbano-industrial. O que provocou o deslocamento de um grande contingente de trabalhadores do campo para a cidade, ao mesmo tempo em que atraiu diversos habitantes de outras regiões (no caso, Rio Grande do Sul) para a cidade. Este movimento elevou de imediato a demanda por habitação, saúde, educação, e bens de consumo básicos como alimentos, remédios e vestuário. 

Este fenômeno representou o principal foco do crescimento da cidade nos últimos anos, e mesmo uma melhora na Azaleia não poderia recria-lo com a mesma intensidade. 

E, isto não é tudo, um aumento do emprego e da renda em Itapetinga, baseado exclusivamente no crescimento das atividades da fábrica teriam um pequeno impacto no comércio local, enquanto boa parte destes novos recursos seriam drenados para o comércio de Vitória da Conquista, algo que já observamos nos dias atuais.

E existe uma razão para isto. O ser humano possui uma necessidade inata de progressão. O que torna as nossas necessidades infinitas e insaciáveis. Sempre que conseguimos atingir um determinado nível de consumo, almejamos sempre atingir um nível superior. 

Para alguém que não possui qualquer automóvel, uma bicicleta é uma grande melhoria comparado a andar a pé. Uma motocicleta é considerada um progresso com relação a bicicleta. Assim, como é um carro popular com relação a motocicleta. E para o carro popular o próximo nível de consumo é o carro de luxo. 

Apenas, em último caso, um indivíduo que atingiu certo padrão de consumo retrocede para um padrão inferior. Estamos sempre a progredir neste quesito, nem que isto custo fazer financiamentos caros junto a bancos, ou reduzir as despesas dentro de casa. 

Assim, mesmo que houvesse um novo aumento do emprego e da renda na cidade causado pela Azaleia, estes teriam um efeito apenas marginal na economia local. Pois, o comércio de Itapetinga não tem sido capaz de satisfazer a demanda por produtos e serviços de melhor qualidade, que são encontrados em Conquista.

Mais do que uma nova Azaleia, Itapetinga precisa de um novo modelo de desenvolvimento. 


Entre o empresariado local ainda reina o saudosismo dos tempos áureos de Azaleia. O qual como mencionado acima não retornará. O modelo baseado na atração de grandes indústrias está saturado. Este modelo de desenvolvimento exógeno forneceu o máximo que tinha para oferecer à cidade, que foi o estabelecimento de uma razoável base econômica urbana.

Para alcançar o próximo patamar de desenvolvimento Itapetinga precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento voltado para satisfazer necessidades mais sofisticadas de demanda. Este processo passa necessariamente pelas empresas locais, que serão as grandes protagonistas pelo desenvolvimento (ou não) da cidade nos próximos anos. 

A qualidade da oferta de produtos e serviços precisa ser elevada a um novo patamar de modo a corresponder ao estágio atual de desenvolvimento da cidade. O consumidor itapetinguense tornou-se mais exigente ao longo do tempo, demandando ofertas condizentes com seu novo padrão de consumo. 

Ou seja, o crescimento e desenvolvimento de Itapetinga nos próximos dependerá menos das oscilações da Azaleia e mais da capacidade dos empresários locais de satisfazerem esta demanda mais sofisticada, através da melhora de seus produtos, do atendimento prestado e dos serviços oferecidos. 

O modelo de atração de fábricas está esgotado, e poderá sobreviver nos próximos anos apenas à sombra do que foi no passado. Está na hora de Itapetinga, através de seus cidadãos assumirem que daqui para frente o futuro da cidade depende deles.

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