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domingo, 9 de março de 2014

Por que comprar em Itapetinga é tão caro?

Utilizando a ciência da administração e a lei da economia de oferta x demanda é possível explicar porque há tanta reclamação com os preços em Itapetinga. 


Na série de posts sobre a relação entre Azaleia e Itapetinga tratei apenas das consequências dos preços praticados na cidade (aqui). Agora, trataremos das razões para este preço mais alto, através da aplicação da lei da oferta e da demanda e de outros conhecimentos da administração.

Começo refutando a ideia de que os preços altos cobrados em Itapetinga são fruto da ganância do empresário local. Será que o empresário de Conquista ou Itororó são menos gananciosos que os empresários de Itapetinga? Pela lógica, não deveriam os conquistenses que possuem um mercado consumidor maior cobrar ainda mais caro, afinal, ganhariam assim ainda mais dinheiro? Ou, se os empresários locais cobram mais caro porque querem, então porque não cobram ainda mais caro? 


Se não podemos utilizar a ganância como razão para os preços do comércio local. Precisamos assumir outras hipóteses. Uma destas seriam os altos custos de fazer negócio em Itapetinga, o que explicaria a situação apenas em parte, e não encontra muitos argumentos que a sustentem, porque afinal, como explicar que os custos de fazer negócio em Itapetinga são muito maiores que Conquista, cidade a pouco mais de 100km de distância e que goza razoavelmente de uma mesma estrutura de custos (fretes, impostos, taxas, etc.)?

A explicação mais completa para os preços no comércio de Itapetinga têm uma origem histórica, e novamente ligada à chegada da Azaleia. No post em que analisei o que ocorreu na economia de Itapetinga nos últimos anos (aqui) apresentei o seguinte quadro: 



A vinda da fábrica para a cidade provocou um aumento repentino na demanda que não foi acompanhada pela oferta. Seguindo a lei de oferta e demanda, os preços no comércio local, justificadamente, subiram. 

Uma alta dos preços é comum em cidades que experimentam o surto de desenvolvimento como aquele que ocorreu em Itapetinga. A oferta leva algum tempo para suprir a demanda e durante este período é comum que os preços permaneçam altos. 

Ao longo dos anos 2000, a demanda não somente permaneceu alta, como também cresceu. Em Itapetinga, a maioria da população recebe o salário mínimo, que durante este período saltou de R$151,00 em 2000, para R$ 724,00 atualmente em 2014. Um aumento de quase 380%. Durante este período foram criados os programas de transferência de renda, que se tornaram importante fonte de renda (e demanda) em regiões carentes.

Ou seja, além do aumento de demanda inicial puxado pela abertura de novos postos de trabalho, ao longo dos anos esta demanda continuou crescendo puxada pelo aumento da renda, especialmente do salário mínimo. Enquanto a oferta crescia em um ritmo mais lento, sem conseguir acompanhar a demanda.

Isto explica, historicamente, o preço mais alto pago por diversos produtos em Itapetinga. Mas, como demonstrei em outro gráfico, nos últimos anos a balança tem se invertido. A oferta tem crescido, com a criação de novas empresas nos últimos anos, e pelo crescimento das empresas mais antigas que aqui já operavam. O gráfico é o seguinte: 


Os últimos anos representam um ponto de inflexão na balança entre oferta e demanda em Itapetinga. A oferta cresce, e a demanda diminui. Além das demissões em massa da Azaleia, o ritmo de crescimento da renda sofreu duras quedas ao longo dos últimos anos, estabilizando a demanda. A tendência futura é que em muitos ramos de atividade na cidade a oferta supere a demanda. 

Se por um lado uma demanda aquecida, puxa os preços para cima, o oposto também é verdadeiro. Os preços no comércio de Itapetinga tendem a cair nos próximos anos, exatamente para se ajustar a um cenário em que oferta e demanda estão mais equilibradas, o que deve puxar o preço de vários produtos e serviços para níveis mais próximos aos de outras praças em vários segmentos. 

Além disso, nos últimos anos, tornou-se cada vez mais fácil fazer compras em outras cidades, como Vitória da Conquista e pela internet, onde muitas vezes é possível encontrar uma variedade maior de produtos a preços mais acessíveis. Acelerando o processo de ajuste no comércio local. 

O que influencia o ritmo de ajuste de preços no mercado de Itapetinga? 


O ritmo de ajustes de preços no comércio de Itapetinga poderia está ocorrendo a um ritmo mais acelerado. Mas, acredito que dois fatores tendem a torna-lo um pouco mais lento, o que deve prejudicar o comércio por um período maior de tempo. 

O primeiro fator é aquilo que apontei nos posts sobre a relação entre Azaleia e Itapetinga (aqui). Enquanto os empresários locais atribuírem o mau desempenho de suas vendas a uma queda no número de funcionários da Azaleia, e enquanto permanecerem na eterna expectativa que ela retorne aos bons tempos, a tendência, é que as coisas permaneçam como estão por mais tempo. 

O segundo fator, que está ligado ao primeiro, deve-se ao fato que poucas empresas em Itapetinga planejam os seus negócios. O planejamento é uma ferramenta essencial para a tomada de decisões por parte do empresário o que lhe permite antecipar os movimentos do mercado. Empresas que não se planejam, geralmente, analisam o futuro com base nos resultados do passado, e por isto, estão sempre um passo atrás dos movimentos do mercado. 

Para estas empresas, seria necessário uma série de anos de queda nas vendas, antes de começarem a rever a sua política de preços. Tendem a corrigir os rumos de suas empresas tarde demais. 

Aqueles que se planejarem e se ajustarem antes de seus concorrentes às novas condições de mercado serão beneficiadas e se recuperaram mais rápido que as concorrentes, que seguirem olhando para o retrovisor. 

A economia de Itapetinga passa por uma fase de ajuste, muitas coisas tendem a mudar, e a fase dos preços altos é uma das coisas que caminham para ficar no passado. 



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