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segunda-feira, 7 de abril de 2014

O que se vê e o que não se vê II: A vidraça quebrada.

Um erro básico do jornalismo está em afirmar que um país devastado por uma tragédia, terá como benefício o crescimento do PIB, graças, à reconstrução do que foi destruído. Também estão enganados aqueles que usam o argumento, de que ao sujar as ruas estão contribuindo para que empregos estão sendo criados para limpadores de rua. 


Bastiat escreve em um capítulo de seu livro sobre A vidraça quebrada:

"Será que alguém presenciou o ataque de raiva que acometeu o bom burguês João da Silva, quando seu terrível filho quebrou uma vidraça? Quem assistiu a este espetáculo seguramente constatou que todos os presentes, e eram para mais mais de 30, foram unânimes em hipotecar solidariedade ao infeliz proprietário da vidraça quebrada: 'Há males que vem para o bem. São acidentes deste tipo que ajudam a indústria a progredir. É preciso que todos possam ganhar a vida. O que seria dos vidraceiros, se os vidros nunca quebrassem?'"

A vidraça quebrada é o que se vê.


Bastiat, demonstra que estas formas de condolência escondem um flagrante delito.  Supondo que seja necessário gastar 60 reais para consertar a vidraça, então a indústria dos vidros receberá um aumento de receita de 60 reais. O vidraceiro virá, fará o seu serviço, e contente sairá com os seus 60 reais no bolso, fazendo o dinheiro circular. Isto é o que se vê.

Porém o que não se vê, é que ao ter que pagar 60 reais para consertar a vidraça, o João da Silva deixará de gastar 60 reais em outras coisas, um livro, por exemplo. Ou seja, se a vidraça não houvesse sido quebrada, ele poderia ter o prazer de adquirir um novo livro para a sua biblioteca. Mas, como precisou reparar o dano, ele vai ter apenas o prazer de ter sua vidraça de volta. Ou seja, ao invés de dois, terá apenas um prazer. É o que não se vê. 

A indústria, em termos gerais, não terá muito o que comemorar. Afinal, se podemos dizer que a indústria de vidros acrescentou 60 reais a sua receita, podemos também afirmar que outras indústrias (livros), deixaram de receber estes 60 reais. Ou seja, ao fim, ficou na mesma. Novamente, é o que não se vê.

E a sociedade como um todo, também acaba perdendo. Pois, se a sociedade é o conjunto dos cidadãos de uma localidade, João da Silva incluso, então, o fato dele ter um prazer menos, significa que em termos gerais, toda a sociedade também teve um prazer a menos satisfeito. 

Conclui-se que toda a sociedade perde o valor dos objetos inutilmente destruídos. Ou "quebrar, estragar, dissipar, não é estimular o trabalho nacional", ou mais resumidamente "destruição não é lucro".

A que se notar, que existem 3 personagens nesta história. O primeiro é o João da Silva, aquele que foi obrigado a satisfazer um prazer invés de dois. O outro é o vidraceiro, que é a indústria que foi estimulada com a quebra da vidraça. O terceiro é o livreiro(ou outra indústria), o sujeito oculto nesta situação, aquele que não se vê. A indústria de livros foi desestimulada, pois, os recursos que seriam gastos nela foram usado para o conserto da vidraça. É ele, o livreiro, que nos ensinará que é absurdo procurar lucro numa restrição, uma vez que esta é também uma forma de destruição.

A economia do desastre e outros tipos


É, hoje em dia, lugar comum, no jornalismo, associar crescimento do PIB com desastres naturais. Numa inter-relação bizarra, que transforma as despesas com uma tragédia em riqueza. 

Em 2011, quando um terremoto de grandes proporções atingiu o Japão, logo começaram as previsões sobre os efeitos na economia japonesa. O Banco Mundial mal esperou os tremores pararem para afirmar que o PIB do país não iria cair, e que até cresceria nos próximos anos, impulsionados pelos esforços de reconstrução. Paul Krugman, aquele queridinho dos noticiários, e que sugeriu uma invasão alienígena para estimular a economia, afirmou que a catástrofe japonesa seria bom para impulsionar a economia de muitos países. 
A destruição do terremoto no Japão (2011)

Acontece, que como demonstrou Bastiat, não existe lucro na destruição. O que os japoneses estarão experimentando com o esforço de reconstrução nada mais é que o reparo de uma satisfação perdida. Nenhuma nova riqueza será criada, apenas reposta. Os japoneses não estarão mais ricos, é provável que muitos terminem mais pobres. Pois, os custos da reconstrução terá que sair de algum lugar, provavelmente das poupanças acumuladas, e estes são recursos, que deveriam está sendo utilizados em outras áreas. Neste caso, o japonês comum, aquele de carne e osso é o sujeito oculto, o livreiro de nossa história.  

O mesmo serve para aqueles indivíduos que dizem está criando empregos ao jogar lixo nas ruas. Segundo eles, ao emporcalhar as cidades, estão criando empregos para aqueles que vão limpa-la. 

O emprego do gari é o que se vê. O custo para outras áreas é o que não se vê.
Obviamente, este sempre foi um argumento fraco, mas, graças a Bastiat agora temos mais clareza. Ao sujar a rua, o indivíduo de fato pode está aumentando o número de pessoas necessárias para limpa-la, aumentando o emprego. Mas,o custo desta limpeza adicional das ruas, precisará sair de uma outra área dos cofres públicos, talvez da educação ou da saúde. E, o emprego que está sendo criado de varredores de rua, poderia ser o emprego de uma professora ou de um médico, por exemplo.

A conclusão que se chega é que estímulos econômicos que se baseiam na destruição, seja ela de qual tipo for, somente beneficia o responsável por reparar os danos, perderá, porém, a vítima do dano, perderam também aqueles que seriam beneficiados se não houvessem dano algum, e por fim, perde toda a sociedade. 

Deixe seu comentário! Leia mais textos relacionados a Bastiat:

Livro: Frederic Bastiat

Economia: O que se vê e o que não se vê.

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