Apesar do ritmo da indústria brasileira há alguns anos vir recuando mês a mês, o emprego no setor resistia. Os números de junho, no entanto, mostram que talvez a capacidade de suportar uma economia estagnada está acabando.
Há algum tempo os dados sobre a indústria brasileira não são nada animadores. Em 2012, a participação da indústria no PIB retornou aos níveis dos anos 50, anterior ao plano de metas de Juscelino Kubitscheck. A produção apresentava sucessivas quedas. E o faturamento e as vendas ao exterior demoraram para retornar aos níveis pré-crise mundial de 2008.
Mas, um dado positivo mantinha-se resistente neste cenário de baixa: O emprego na indústria. O economista José Paulo Kupfer em seu blog no Estadão, explica as razões para o setor industrial evitar demitir funcionários mesmo num cenário econômico negativo. Leia o que escreve num artigo sobre o tema :
A resistência a demitir é uma das características específicas do setor industrial. Nele, a retenção de mão de obra costuma ser maior do que em outros segmentos pelo fato de que o empregado industrial tende a ser mais qualificado e bem treinado do que os demais. Costuma ser mais alta, portanto, o custo de admissão – há mais disputa por mão de obra no mercado – e também o de demissão. Além de os salários mais elevados levarem a custos de demissão também mais altos, ainda é preciso computar nos custos os gastos com treinamento de pessoal na fábrica e em cursos bancados pela empresa.
O setor industrial usa todos os mecanismos possíveis para evitar a demissão de funcionários mesmo num cenário de baixa atividade econômica. Para isto, se reduz o número de horas extras, dar-se férias coletivas, suspendem contratos temporariamente. Enfim, todo tipo de medida que possibilite manter o vínculo com o trabalhador, na expectativa de melhoras na economia. Acontece que esta melhora parece que não virá neste governo. Depois de quatro anos de espera pelo tão prometido Pibão, a capacidade de resistência parece próxima do fim.
Comento:
O efeito colateral da resistência do emprego na indústria
A manutenção do emprego na indústria foi obtido a um custo para toda a economia brasileira. Para segurar estes postos de trabalho, o governo utilizou de políticas protecionistas para salvar os setores que empregam grande mão-de-obra na indústria. Como o setor calçadista, automobilístico, eletroeletrônicos e construção civil.
Fosse por meio da desoneração de impostos, ou pela imposição de barreiras aos importados, a nossa indústria foi protegida, desde que em contrapartida mantivesse o emprego.
Estas ações, por vezes contraditórias do governo foram o que levaram o governo Dilma e seu Ministro da Fazenda Guido Mantega, a perderem a credibilidade do mercado. A política econômica do atual governo é fraca e vulnerável ao lobby das grandes empresas, e daquelas melhor articuladas dentro da máquina pública. Como a Anfavea que representa o setor automobilístico.
No momento, em que os importados começaram a incomodar as empresas instaladas no
país, o governo lançou mão de um controverso aumento do IPI para os carros produzidos no exterior, 30 casas percentuais acima do cobrado para o produto nacional. Ainda, que num primeiro momento pareça ser uma medida acertada que beneficia o país, no longo prazo é uma medida que tem efeito contrário, e é o que estamos vendo agora.
As barreiras criadas, ajudaram a manter o emprego na indústria, mas, são empregos de baixa qualidade e ineficientes, que ainda assim, graças à proteção concedida pelo governo, permite aos trabalhadores dos setores beneficiados possam receber renumerações acima da média do mercado.
Para o consumidor, o efeito é que os produtos ficam mais caros e reduzem a qualidade. Enquanto, os carros importados ofereciam cada vez mais acessórios em suas ofertas, e cobrando ainda assim, preços menores que o produto nacional, os carros feitos no país seguem entre os mais caros do mundo, e os que acompanham menos itens adicionais.
O emprego é mantido, mas, você é quem paga a conta
Se você não trabalha no setor industrial, são grandes as chances de você pagar para manter os empregos de setores ineficientes de nossa economia. Se você percebe que seu salário tem cada vez menos valor, pois, o preço de quase tudo subiu. Se você descobriu que um mesmo produto comprado no Brasil, poderia comprar no mínimo dois no exterior. Se por tudo isto, você considera que vale a pena o seu sacrifício para que o governo possa fazer propaganda do baixo desemprego no país. Então fique feliz.
Por outro lado, se você pensa que uma economia eficiente é melhor para todos, e é o caminho sustentável para que o Brasil se desenvolva como a potência que pretende ser, então você sabe que deve reclamar com o nosso governo. E, outubro está aí chegando para que você possa mostrar o que pensa.
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