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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Em defesa da desigualdade e do luxo

O tema da desigualdade social há muito tempo mexe com a humanidade. Desde os primórdios da civilização o tema mobiliza artistas, filósofos, pseudo-pensadores, políticos, pobres e também os ricos com forte sentimento de culpa. Durante o período da Idade Média, a desigualdade alcançou o status de ordem social, o pilar de sustentação da sociedade feudal. O posterior advento da Revolução Industrial e na sequência o movimento revolucionário do proletariado inverteu as coisas, atribuindo à desigualdade social a origem de todos problemas sociais. É culpa, afirmam, da desigualdade, a criminalidade, a depravação, o ódio, a decadência cultural, até mesmo jovens fazendo rolezinhos em shoppings é culpa da desigualdade.

 O Fórum Econômico Mundial, reunião de ricos e poderosos apresentou recentemente uma lista com os maiores desafios para a humanidade que trazia a desigualdade no topo das prioridades. Um dos maiores best-sellers do momento é um livro de economia, do professor francês Thomas Piketty. O capital no séc. XXI, um compêndio de 700 páginas contra a desigualdade se esgota com impressionante velocidade em todas as livrarias do mundo, transformou-se rapidamente na nova bíblia dos igualitários. Há, então, razões consistentes para defender a desigualdade e o luxo de poucos? Sim, existem. E é disto que trata este texto, sem esgotar todas as razões existentes.

A primeira razão para defender a desigualdade é de ordem prática. Caso, toda a riqueza no mundo fosse igualmente distribuída por toda humanidade hoje à noite. Ao acordarmos pela manhã já estaríamos outra vez desiguais. Pelo simples fato que alguns gastariam a sua fatia do bolo, enquanto outros a poupariam.

Além de impraticável, a repartição de toda riqueza igualmente daria a cada uma quantidade ínfima. Apenas, os extremamente miseráveis teriam algum acréscimo. A razão é que a quantidade de pobres supera em muito os ricos. E, mais importante, a riqueza que existe atualmente no mundo teria seu valor fortemente afetado pela forma como seria dividida. Quanto você daria por pedaços de uma Ferrari? Ou por partes de uma mansão? Uma Ferrari ou uma mansão valem muito mais que a soma de suas partes. Separadas, muitas das partes não teriam valor algum. Qual valor teria o puxador da porta sem a porta? 

A segunda razão é que somente por meio da coerção e repressão poderia ser alcançado e mantido um mundo igualitário. O que eliminaria todos os incentivos que seres humanos possuem para produzir além das suas necessidades básicas. O empobrecimento seria imediato, resultado contrário ao pretendido pelos defensores do igualitarismo. 

Estas razões parecem suficientes. Mas, é importante defender a desigualdade e consequentemente o luxo, por aquilo que eles representam. É preciso entender a real definição de luxo. Infelizmente, as definições difundidas contribuem para um entendimento equivocado. Veja algumas definições retiradas de um dos principais dicionários da língua portuguesa, "1 Magnificência, ostentação, suntuosidade. 2 Pompa. 3 Qualquer coisa dispendiosa ou difícil de se obter, que agrada aos sentidos sem ser uma necessidade. 4 Tudo que apresenta mais riqueza de execução do que é necessário para a sua utilidade. 5 O que é supérfluo, que passa os limites do necessário.". A ideia que se obtém é que o luxo é sempre algo desnecessário. Supérfluo.

Segundo, Ludwig Von Mises escreveu no livro Liberalismo de 1927, o luxo é o seguinte: “Para formar um conceito correto do significado social de luxo, é necessário, acima de tudo, compreender que o conceito de luxo é inteiramente relativo. Luxo consiste num modo de vida de alguém que se coloca em total contraste com o da grande massa de seus contemporâneos.”

Uma diferença enorme separa as duas definições. O conceito dado por Mises revela que o luxo nada mais é que o desejo inerente aos homens de diferenciarem-se na multidão. Pense no garfo que você usa para comer. Durante a Idade Média era considerado um luxo dos nobres. E o automóvel? Era considerado luxo dos muito ricos no início do século passado. Ter banheiro dentro de casa? Luxo há pouco mais de um século. Televisores de tela plana? Um luxo que custava o preço de um apartamento há pouco mais de uma década.

É importante notar, que o que se considera luxo se modifica com o tempo e lugar. O croissant pode ser considerado alimento de luxo em países pobres da África, não se pode dizer o mesmo na França. Banhos diários eram um luxo entre europeus e parte do dia-a-dia dos índios americanos. Os cortes moicano era comum a toda população de uma antiga tribo, se tornaram luxo dos Punks dos anos 70, se transformaram no cabelo da moda para os fãs do futebol. Os avanços e transformações surgem como um luxo de poucos para em seguida tornar-se necessidade indispensável para todos. Das práticas de higiene a remédios e tratamentos que hoje prolongam a vida inclusive dos mais pobres, tudo foi luxo um dia.

A desigualdade e o luxo, longe de representarem um problema para os pobres, são na verdade a principal razão do porque a pobreza hoje em dia é menos dolorosa e mortal que em qualquer outra época. Não fossem a demanda de alguns por luxo, estaríamos vivendo ainda numa condição animalista-mecanicista. Como tenta definir o dicionário, viveríamos apenas do que é “necessário”, ou seja, alimentos, abrigo e roupa. Esqueça o conforto, as obras de arte, as mais belas músicas e mais belos filmes, esqueça tudo aquilo que você considera essencial. De alimentos e hábitos saudáveis ao seu estilo pessoal. Tudo isto foi luxo um dia. Ou dependendo do ponto de vista, é um luxo seu agora.

Desigualdade e luxo são interdependentes. Não podemos perder um sem perder o outro. E ambos direcionam a humanidade para avanços que tem tornado a vida de todos melhor. Pense nisso, a próxima vez que usar sabonetes para lavar as mãos, ou pasta e escova para limpar os dentes.

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